quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

aquela que tem nome de flor



Ela tem nome de flor. Depois dos filhos criados, os netos nascidos, chegou a pensar que poderia dedicar mais tempo a passear com o marido, mais velho e cada vez mais dependente dos cuidados dela. Mas um dia descobriu um caroço num dos seios. A biópsia não deixou dúvidas, e começou a longa peregrinação terapêutica para os casos de câncer.

Logo na primeira série de sessões de quimioterapia, o braço inchou, e tanto, que foi preciso enfaixá-lo para conter a expansão. O líquido retido exudava, então, pelos poros. Nas pausas entre as séries, o braço mostrava pequenos sinais de melhora. Mas logo se inchava novamente, retomada a quimioterapia. Como passaram a alternar os braços, os dois ganharam as faixas, uma espécie de nova pele contentora, da qual já não conseguia libertar-se.

Algum tempo depois, foram detectados novos nódulos no cérebro. As sessões de quimioterapia começaram a ser alternadas com sessões de radioterapia. Uma primeira bateria diária. Pausa. Nova bateria. A pele se ressentindo. O cabelo caído, substituído por um chapéu. O corpo franzino da que tem nome de flor ficou ainda mais franzino, foi perdendo o brilho, o viço foi lhe vazando pelos poros. Mas não perdeu o ânimo para prosseguir, cumprindo cada etapa do proposto para recuperar a integridade de sua saúde.

O marido, cada vez mais queixoso, não aceita os cuidados de outra pessoa. Por isso, além de tudo, àquela que tem nome de flor ainda cabe as tarefas de lhe preparar as refeições, acompanhar as atividades do dia, ajudá-lo na higiene. Os filhos já não sabem como preservá-la, protegê-la em percurso tão difícil. O filho mais velho divide-se entre acompanhá-la, atender às lamúrias do pai, cuidar de seus filhos e mulher, trabalhar.

Há coisa de um mês, foram descobertos alguns novos caroços no outro seio, e vários nos dois braços, próximos à axila. Ela estremeceu. O filho suspirou fundo. Colheram material que foi enviado para a biópsia. O médico sugere que sejam extirpados os dois seios, e feita uma espécie de raspagem nos dois braços. Em conversa com minha irmã, o filho mais velho disse que, caso se confirme o prognóstico, está pensando em interromper o tratamento. Quer poupá-la de tanto sofrimento. Acha, mesmo, que vai propor a ela viajarem juntos, de férias, como não fazem desde que ele era criança.

No último domingo, no fim da tarde, chegando em casa minha irmã encontrou um vazo florido deixado de presente para ela. Entre os botões em flor, um bilhete, cuja mensagem dizia mais ou menos o seguinte: “Querida amiga, passamos aqui para lhe dar um abraço, e dizer o quanto sua amizade é importante para nós. Na próxima semana, eu e minha mãe seguiremos para Natal. Vamos passar um tempo na praia. Papai fica aos cuidados do meu irmão mais novo. Um abraço. Filho Mais Velho daquela que Tem Nome de Flor”.



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