Cheguei cedo, um pouco antes do horário marcado. A clínica ainda não tinha aberto. Os funcionários chegaram aos poucos. Minha irmã me acompanhava. A recepcionista preencheu meu prontuário, e a enfermeira me conduziu pelo labirinto de corredores estreitos e salas minúsculas. Tomadas todas as providências de preparação, acomodei-me no leito de exames. A luz era pouca, e a temperatura quase fria. O médico explicou o procedimento. Seria aplicada apenas anestesia local, na parte externa do abdômen. Eu sentiria quando a membrana que envolve o fígado fosse rompida. Esse seria o momento crítico do exame. Orientou-me sobre como seria minha participação no procedimento: num primeiro movimento, a cânula perfuraria a parede do abdômen; no segundo movimento, ela penetraria no fígado, para recolher o fragmento do tecido que seria levado à biópsia. Nesses dois momentos, eu deveria reter o ar no pulmão, com a respiração presa, empurrada para baixo. Qualquer movimento meu, nesse processo, poderia aumentar o ferimento, e provocar uma hemorragia.
A cânula era comprida, e um pouco larga. De seu interior, quando acionadas, saíam duas pequenas lâminas, com as extremidades numa espécie de concha, que cortavam e recolhiam um pedacinho do tecido. Senti medo. O procedimento teve início. Primeiro, a anestesia local. Depois, as imagens feitas com o aparelho de ultrassom, para mapear a posição dos órgãos, e calcular com precisão o ponto de incisão. Eu inspirei o ar, e pressionei em direção ao abdômen. Senti a cânula penetrando a carne. Ouvi a voz do médico: “Agora não se mova”. Senti uma fisgada funda, simultânea ao segundo movimento da cânula. Em seguida ele retirou a primeira amostra. A dor se refletiu no estômago. O médico recomendou: “Respire, mesmo quando pareça que não vai conseguir. A única forma de você combater a dor é respirando fundo.” Seriam necessárias outras duas amostras. Na segunda vez, a dor se intensificou ainda mais, repercutindo na parte alta das costas, e por dentro do ombro direito. Já sentia dificuldade ao expandir o pulmão com a entrada do ar. Quando o procedimento foi repetido pela terceira vez, eu achei que não conseguiria, mesmo, respirar. Mas a voz do médico era calma, segura, e insistia: “Você consegue vencer a dor com a respiração!”
Eu acreditei. Reuni todas as forças, e respirei. Contra todas as dores e os medos que me pudessem abater, eu respirei. Depois fiquei quieta, pressionando a região, até que o tecido começasse a se regenerar, e já não houvesse risco de hemorragia. Quase senti vontade de dormir...
Deu tudo certo, ja esta melhor? Desejo que sim!
ResponderExcluirEstou, sim, Agno. Obrigada pelo cuidado.
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