sábado, 30 de julho de 2011

Minha primeira viagem de avião - passeio com os anjos


Outubro, algum tempo antes da Semana da Aviação. A professora pediu que fizéssemos um desenho sobre o tema. Numa cartolina inteira, desenhei um par de asas – como se tivessem sido arrancadas do corpo dalgum anjo, ou pássaro – um avião, céu azul, nuvens, e uma paisagem com árvores e flores na linha de terra. Eu acabara de completar 10 anos, e estudava na 4ª série. Alguns dias depois, fui informada que havíamos participado de um concurso de desenhos. Em cada turma, apenas um desenho daria o direito ao seu autor para fazer um passeio de avião. Na minha turma, meu desenho fora selecionado. UAU!

No dia e horário marcados (talvez fosse domingo, pois não tinha aulas nesse dia), segui para a escola, com o obrigatório uniforme escolar: blusa branca, saia de cor caqui, toda pregueada, sapatos pretos, meia de três quartos branca. O caminhão do exército já nos aguardava. As crianças foram sendo alçadas à carroceria coberta, onde os soldados nos apontavam onde e como deveríamos nos acomodar – precariamente. Na subida, minha saia inflou-se com o vento, tentei segurá-la, sem sucesso, minhas mãos estavam presas às do soldado. Fiquei sem graça, com as faces vermelhas. Preferi dissimular naturalidade. Afinal, estávamos, todos, muito agitados no afã do principal assunto em pauta: passear de avião!

No aeroporto, embarcamos num Búfalo da FAB, usado pelo exército principalmente na Amazônia, desde 1967 até 2008. Os bancos todos encostados à parede do avião, deixavam o vão central livre. Fomos acomodados ali, sentados de costas para as pequenas janelas, presos aos cintos de segurança. O coração pulsava tão forte, que talvez fosse possível perceber seu movimento empurrando a blusa branca do uniforme. Passei todo o tempo com a cabeça girada para trás, para ver, pela janela localizada às minhas costas, a paisagem se modificando enquanto a aeronave decolava, e depois se deslocava, a alguma altura, sobre territórios de onde eu nunca  antes despregara os pés. Tentava identificar casas, sítios, estradas familiares, no trajeto do vôo que durou cerca de 30 minutos.

De volta à terra firme, desembarcamos do avião com a ajuda dos soldados. Voltamos ao ponto de partida levados pelo mesmo caminhão do exército. Cheguei em casa meio enjoada, e com uma baita dor no pescoço!

Na semana seguinte, soubemos, na escola, que, depois de nos ter presenteado com aquele passeio, a tripulação do Búfalo seguiu para a Amazônia, onde sofreu um acidente. O avião caiu. Ao que nos informaram, não houve sobreviventes.


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