Todos os cães que conviveram conosco tiveram vida longa: entre 16 e 18 anos. Por serem longevos, na minha infância e adolescência, convivi com poucos, quatro ao todo. Desses, dois eu os conheci já idosos. Mas os outros dois eu os acompanhei desde sua chegada à nossa casa, muito miúdos, até a idade adulta, companheiros, cheios de histórias...
O mais velho chamava-se Fiel. Embora fosse vira-lata, seu porte impressionava: grande, o pelo dourado, a boca negra, bom caçador, assustava os desavisados. Mas nunca mordeu ninguém, nem os animais de trato da casa. Play Boy era o mais novo. Filho de uma cachorra vira-lata com um pastor alemão, tinha o pelo malhado de vermelho e branco, a boca muito rosa, era grande, manso e alegre. Dona Gegé me deu o filhote, muito pequeno, muito magro, maltratado, quase não se punha em pé. Chegamos a nos perguntar se sobreviveria. Fez-se um belo animal.
Na fazenda, a casa principal ficava num pátio menor, com dois portões que davam para um pátio maior, onde se faziam os trabalhos mais pesados. Os dois passavam a maior parte do tempo do lado de fora. Por isso, seu grande objeto do desejo era estar conosco, no pátio menor, de preferência com exclusividade, ou seja, sem o concorrente disputando a nossa atenção.
Então eles desenvolviam estratégias para tirar o rival do páreo.
Algumas vezes no dia, ficavam deitados próximos ao portão, um ao lado do outro. Por vezes um deles levantava as orelhas, olhava em direção à estrada, e latia determinado, como a denunciar a chegada de alguém. O outro olhava, e latia, também. Nenhum dos dois se levantava, pois, de fato, não vinha ninguém, tampouco algum animal cruzava a imobilidade da paisagem. Retornavam ao silêncio. Atentos ao movimento da casa, agitavam-se quando nos avistavam. E repetiam os latidos olhando para a estrada, tentando nos convencer de que deveríamos recolhê-los, como fazíamos toda vez que chegavam visitas.
Até que um deles levantava-se latindo mais intensamente, e saía correndo, até passar para o lado de fora da cerca maior, como se fosse atacar alguém. O outro o seguia, também correndo e latindo, mas permanecia do lado de dentro. Cada qual de um lado da cerca, brigavam entre si durante alguns minutos. O pêlo eriçado, os dentes à mostra. Algum tempo depois, abandonavam o embate. Cada qual seguia em uma direção diferente, dissimulados.
Algum tempo depois, um deles já havia retomado o posto ao lado do portão, prazenteiro, à espera de que alguém lhe abrisse a passagem, para ir ter conosco. De preferência antes que seu concorrente se desse conta de que havia perdido a primazia na ordem de chegada...
Meus bons companheiros... Hoje devem estar disputando quintais nalgum céu reservado aos cães que povoaram infâncias com risos, e pequenas festas.
Minha mãe nunca deixou que eu tivesse um cachorro quando eu era criança. A Nina chegou à minha casa quando eu já estava na faculdade, e ainda assim chegou e ficou porque minha mãe foi pega de surpresa. Minha Nina é candanga! Veio de Brasília, de presente de aniversário de 19 anos. Tio Rodrigo que a trouxe. Desde então tem trazido muita alegria para as nossas vidas, inclusive o Zezinho e o Bizú. Espero que ela viva muitos e muitos anos.
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