quinta-feira, 19 de maio de 2011

Espelhos: uma história quase universal



Quando o Iraque ainda não era o Iraque, ali nasceram as primeiras palavras escritas.
Parecem pegadas de pássaros. Mãos de mestre as desenharam, com varinhas afiadas, na argila.
O fogo, que havia cozido a argila, as guardou. O fogo, que aniquila e salva, mata e dá vida: como os deuses, como nós. Graças ao fogo, as tabuinhas de barro continuam nos contando, até hoje, o que tinha sido contado faz milhares de anos nessa terra entre dois rios.
Em nosso tempo, George W. Bush, talvez convencido de que a escrita tinha sido inventada no Texas, lançou com alegre impunidade uma guerra de extermínio contra o Iraque. Houve milhares e milhares de vítimas, e não apenas gente de carne e osso. Muita memória também foi assassinada.
Numerosas tabuinhas de barro, história viva, foram roubadas ou destroçadas pelos bombardeios.
Uma das tabuinhas dizia:
      Somos pó e nada.
      Tudo que fazemos não é mais que vento.

Eduardo Galeano


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