terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Fastio e tédio


Em meio à movimentação intensa e ao caos acústico, chamou-me a atenção um apito de trem. Estranha sonoridade para aquele lugar. Logo avistei a máquina puxando três pequenos vagões, entre os corredores do shopping center. Um homem de uns 30 anos, fantasiado de maquinista, conduzia a engenhoca, a baixa velocidade, acionando o apito para alertar as pessoas sobre sua passagem. (Imaginei que aquele pudesse ser um emprego temporário para alguém em busca de lugar no mercado de trabalho saturado...) Um som gravado sugeria a aceleração da máquina, aumentando a intensidade do barulho e o ritmo do giro das rodas em trilhos hipotéticos. Mas a engenhoca seguia, sempre devagar. Ainda bem. As pessoas caminhavam à sua frente, sem se importar muito com possíveis riscos de atropelamento.

Havia uma música festiva que exalava de caixas instaladas em pontos estratégicos nos vagões. Estes estavam com a maior parte de seus lugares vazios. Apenas no primeiro vagão havia três crianças, sentadas, olhando à volta. Sua expressão, tanto quanto a expressão do maquinista, era de indiferença. As luzes das lojas e dos enfeites e dos corredores, os diversos sons, os apelos vindos das vitrines, os cenários montados para seduzir os consumidores, o colorido do trem, as pessoas indo e vindo, nada disso era capaz de se traduzir em algum raio de alegria, por menor que fosse, no olhar dos passageiros daquele trem. Ao contrário: a hiperestimulação parecia anestesiá-los. Mostravam-se apáticos. Como todos nós temos andado, afinal, nesta sociedade de consumidores...

Quando tudo há em excesso, restam fastio e tédio... nada mais...



2 comentários:

  1. Lindo texto!... Mas,vosmecê,discretamente,a dar o seu 'rolèzín-shoppingnianno... Não?!...

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    1. hahahahahahaha
      eu até que tentei! mas não achei minha turma! aliás, acho que minha turma nunca está por lá...
      faltou vossência, para testemunhar o ocorrido, e também tecer suas considerações!
      :)

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