Para algumas pessoas, a maior parte delas, a ideia de viagem
está atrelada à noção de deslocamento entre cidades. Alguém que tenha viajado
muito terá estado em muitas cidades, e trazido muitas pequenas recordações de cada uma
delas, impregnadas de histórias, cada qual. A cartografia desses
viajantes aproxima-se, em alguma medida, do mapas geográficos.
Penso em viagens outras, que não dependem de empresas
aéreas, trens, ônibus. Penso em viagens cujo projeto seja desbravar os árduos caminhos que ligam não cidades, mas pessoas. Por vezes, pressinto que a
distância entre uma pessoa e outra é muito maior que a distância entre duas
cidades de países distintos.
Minhas cartografias de viagem portam anotações sobre essas
distâncias, e esses percursos. Há notas, também, sobre as distâncias entre as
pessoas e os lugares que elas ocupam. Pois, estar num lugar não implica
conhecer esse lugar, estabelecer meios de comunicação com ele, percebê-lo de
modo intenso...
Quando ouço relatos de viagem, e breves descrições de
lugares, paisagens, monumentos, muitas fotos, penso sobre os que vivem ali, seus
sonhos, suas redes de relações , suas dores, seus medos, seus amores... E
quando as pessoas me perguntam Você
conhece tal cidade? antes de responder sim,
ou não, eu me pergunto, em silêncio, quem a conhece? Seus habitantes a conhecem? Ter
passado por ela faz de alguém um seu conhecedor?
Quando me falam sobre cidades, penso em seus habitantes. Além das pessoas, isso também inclui os pássaros que voejam por ali, e seus ciclos – coisa que não dá para se
saber numa breve estadia, em viagem orientada por roteiros de cidades...
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