Rosi Martins e Wolney Fernandes são artistas inquietos e
sensíveis. Esta afirmação não é apenas exercício de retórica. À sua volta, os
tecidos, as linhas, as sombras, os gestos, os olhares, as memórias, as
histórias são enxertadas de sentido estético, e vão tomando feições de trabalho
artístico, assim, um ligado ao outro, e ao outro, e todos entremeados à vida.
O mar, Eu nunca vi... No começo, configurou-se o desejo.
Lembro-me de conversas breves pelos corredores, à porta das salas, quando se
começou a pensar no projeto. De um lado, estavam as roupas inspiradas nos Sertões
do Rosa. De outro lado, o cerrado resiliente, com sua rústica plasticidade.
Entre um e outro, o desejo urgente e incontrolável de poesia imagética.
Então soube de Rosi e Wolney seguindo por estradas, ao
encontro de paisagens onde pudessem escrever, com roupas surradas e árvores
contorcidas, seus poemas. Numa tarde dessas, entre relatos efusivos e pausas
encantadas, fui inundada por suas imagens de terra calcinada, árvores
queimadas, céu denso, roupas ressecadas, marcadas pelo tempo, tons de vermelho
e ocre evocando sentidos enraizados no que há de mais primevo, ao mesmo tempo duro
e delicado, nas gentes que vêm, desde antanho, repisando nossa humanidade.
Sem pedir permissão, suas imagens tocavam minhas
fragilidades, mostrando-as como sedas enroscadas entre galhos secos. Mas também
reportavam força e persistência ante a dor, impressas pelas marcas do caminhar,
com espaço ainda para celebração festiva pontuada por fitas coloridas.
Algum tempo terá se passado, desde então, até que,
afinal, somos brindados com o compartilhamento dessa comovente experiência
poética na forma de narrativa visual. O desejo toma forma, e se pronuncia. De
pano, pele, couro, terra, cinza, galhos, gravetos e céu somos tecidos. Deixamos
rastros, marcas no pó. A terra e o tempo deixam marcas em nossas histórias. O
vento, que nos resseca, sussurra segredos. Por vezes, parece querer lembrar o
mar... O mar? Ah, eu nunca vi...
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