terça-feira, 4 de dezembro de 2012

para se reencontrar é preciso, antes, ter se perdido...



Há anos, na falta do que fazer, seguíamos para Goiânia, e brincávamos de nos perder em suas ruas. A parte mais divertida era observar as orientações sobre como chegar a algum lugar, quando saíamos perguntando sobre endereços e localizações às pessoas que encontrávamos em postos de gasolina, lojas, lanchonetes. Aventura radical, mesmo, era contratar algum moto táxi para nos guiar até os endereços pretendidos.

Hoje, precisei de orientação para chegar a uma escola. Sabia que estava muito perto dela, mas não conseguia encontrar. Numa padaria, pedi ajuda à funcionária. Antes que ela me respondesse, ocorreu-me à memória o gesto recorrente, familiar, de quem, generosamente, se dispunha a explicar, no tempo em que brincávamos do nos perder por estas paragens. Sorri com alegria, enquanto ela repetia o tal gesto: "você volta prá lá (prá lá é uma direção incerta sinalizada com um gesto mais amplo do que o necessário...), quando chegar na pista de mão dupla, vira prá esquerda" e apontava para a direita com a mão esquerda. A moça, ao lado, discordou dela: "nããão, quando ela chegar na pista de mão dupla, ela tem que virar para a direita!", e com a mão direita apontava para a esquerda. E completava a explicação: "Depois ela entra prá direita, e já dá na escola".

Senti saudades da época quando eu tinha tempo para me perder e me encontrar na cidade. Agradeci, sinceramente, as duas moças. Não exatamente pela explicação, mas por sua disposição para ajudar, e pela alegria que senti na (des)orientação por elas promovida. Principalmente, pelo seu modo de ser e estar no mundo. Despedi-me, agindo como se tivesse compreendido tudo. De fato, entendi que precisava voltar à pista de mão dupla. Dali seguiria meu instinto. Deu certo. Como sempre dera antes: em seguida, cheguei à escola.

A propósito, eu buscava pela Escola Estadual Jornalista Luiz Gonzaga Contart. A quem eu perguntasse, citando o nome completo da escola, respondia franzindo o rosto, e devolvendo a pergunta: "... que escola?" Quando eu repetia o nome, revelava-se o modo como os moradores identificavam o lugar procurado por mim: "Ah, a senhora tá procurando a escola do jornalista! ah, é ali adiante: passe, deixa eu ver, uma, duas, três, quatro ruas, entra à direita, depois à esquerda, aí passa, deixa eu ver, depois... " e eu já tinha me perdido. Foi assim que cheguei à padaria... Sim, para só depois encontrar a escola do jornalista.



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