Quando pipocam os fogos de artifício, à meia noite, na
virada de 24 para 25 de dezembro, ouço com estranheza a efusiva comemoração.
Celebra-se o que, exatamente, nesse momento? O que ocorre nesse passo do tempo,
que justifica toda a eclosão de abraços, formulações de votos, comida, bebida,
excitação? Cena que tem repetição uma semana depois, quando no calendário é
marcada a virada do ano, num fracionamento do tempo sujeito a variações. O que
marcam, de fato, essas celebrações?
Lembro-me da primeira ceia de Natal de que tomei parte,
na casa de amigos, já vivendo na cidade. Mesa farta, convidativa, aromas
deliciosos. Quando os convivas decidiram que havia batido a meia noite, todos
começaram a se abraçar, e formular os melhores votos. E eu me perguntava por
que àquela hora, e não antes, ou depois, e por que não todos os dias, quando
encontramos nossos queridos? Na semana seguinte, lá estava eu, novamente, com a
mesma família, acolhida afetuosamente, e novamente lá estava a mesa farta, e
novamente à meia noite os votos, a festividade. Eu era abraçada e abraçava,
repetindo o gesto de todos, mas me perguntando por que naquele momento e não
antes, e não depois?
Já não tenho qualquer intenção de disfarçar meu
desconforto com as festas de passagem de ano. Meus votos, formulados nesta
época, podem ser estendidos a todos os dias do ano. Declarações de afeto me
acompanham quando encontro pessoas queridas. E também quando não as encontro, e
lhes sinto a falta.
Afinal, o exercício de amorosidade atravessa calendários,
independe dos dias da semana, dos rituais, dos feriados nacionais. Ou não será
exercício de amorosidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário