terça-feira, 25 de dezembro de 2012

exercício de amorosidade



Quando pipocam os fogos de artifício, à meia noite, na virada de 24 para 25 de dezembro, ouço com estranheza a efusiva comemoração. Celebra-se o que, exatamente, nesse momento? O que ocorre nesse passo do tempo, que justifica toda a eclosão de abraços, formulações de votos, comida, bebida, excitação? Cena que tem repetição uma semana depois, quando no calendário é marcada a virada do ano, num fracionamento do tempo sujeito a variações. O que marcam, de fato, essas celebrações?

Lembro-me da primeira ceia de Natal de que tomei parte, na casa de amigos, já vivendo na cidade. Mesa farta, convidativa, aromas deliciosos. Quando os convivas decidiram que havia batido a meia noite, todos começaram a se abraçar, e formular os melhores votos. E eu me perguntava por que àquela hora, e não antes, ou depois, e por que não todos os dias, quando encontramos nossos queridos? Na semana seguinte, lá estava eu, novamente, com a mesma família, acolhida afetuosamente, e novamente lá estava a mesa farta, e novamente à meia noite os votos, a festividade. Eu era abraçada e abraçava, repetindo o gesto de todos, mas me perguntando por que naquele momento e não antes, e não depois?

Já não tenho qualquer intenção de disfarçar meu desconforto com as festas de passagem de ano. Meus votos, formulados nesta época, podem ser estendidos a todos os dias do ano. Declarações de afeto me acompanham quando encontro pessoas queridas. E também quando não as encontro, e lhes sinto a falta.

Afinal, o exercício de amorosidade atravessa calendários, independe dos dias da semana, dos rituais, dos feriados nacionais. Ou não será exercício de amorosidade.


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