domingo, 16 de junho de 2013

Pão e circo e o leão do imposto de renda à população


No sábado, a cidade acordou um pouco mais cedo. Todos tinham pressa nos afazeres rotineiros, para participar, presencialmente ou à distância, do evento-espetáculo abertura da Copa das Confederações. Quase todos. Alguns tinham pressa para se manifestar contrários à política do pão e circo vigente nos vários âmbitos do Estado brasileiro, política da qual o grande espetáculo tomava parte.

Algumas ruas foram interditadas. Grandes palcos com espaço para shows musicais e telão foram instalados para que o público pudesse testemunhar tudo, mesmo sem ter acesso ao Estádio Nacional Mané Garrincha. Houve até jornalista que questionasse o nome do estádio, referindo-se à homenagem ao grande jogador. Ninguém lembrou que o grande Mané Garrincha viveu seus últimos dias no Distrito Federal, morrendo pobre e sem assistência na cidade satélite de Sobradinho. À parte dos espetáculos...

À porta do estádio, alguns entreveros: manifestantes empunhavam protestos, policiais posturavam-se na frágil passarela do discurso que anunciava “é preciso garantir o direito de expressar-se, de manifestar-se, mas também é preciso garantir ao cidadão que comprou seu ingresso o direito de assistir ao espetáculo”, famílias e torcedores em geral vestiam-se com bandeiras e alegrias meio tontas enquanto dirigiam-se aos portões de acesso. Nos céus, helicópteros, aviões não tripulados, e nuvens numa tarde que fora anunciada como ensolarada. Muitas nuvens, que redundaram em chuva durante a partida. Erros de previsão acontecem, afinal...

À tarde, as pessoas se acotovelaram em torno de aparelhos de televisão nos bares, nas casas, além do palco no gramado da Esplanada dos Ministérios.

Mas houve também, e não foram poucos, aqueles que tenham se mantido à parte da festa, observando criticamente o momento político e econômico do país, a desfaçatez em que se encontra a saúde pública, ao lado da educação e da segurança, ante os bilhões gastos para a construção de um estádio que pouca serventia terá, e uma festa “para gringo japonês ver”.

Foram muitas as comemorações da vitória brasileira no primeiro jogo. Finalmente Neymar voltou a apresentar seu bom futebol! Bebeu-se ao grande feito. Dançou-se pelo grande feito. No domingo, a cidade amanheceu com cara de ressaca. Cada um foi retomando sua vida, suas dívidas, os impostos (cada vez mais caros) a pagar, as rezingas quotidianas, o cansaço do trabalho, os pés doloridos no fim de cada dia...

Minha mãe sentencia: “se faltarem os trabalhadores, os campesinos, a cidade não sobrevive; se a cidade acabar, os trabalhadores e os campesinos inventam outra cidade; se os jogadores acabarem, todos continuam vivendo...”

Disponível em emBrasília (facebook)




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