No sábado, a cidade acordou um pouco mais cedo. Todos tinham
pressa nos afazeres rotineiros, para participar, presencialmente ou à
distância, do evento-espetáculo abertura da Copa das Confederações. Quase
todos. Alguns tinham pressa para se manifestar contrários à política do pão e
circo vigente nos vários âmbitos do Estado brasileiro, política da qual o
grande espetáculo tomava parte.
Algumas ruas foram interditadas. Grandes palcos com
espaço para shows musicais e telão foram instalados para que o público pudesse
testemunhar tudo, mesmo sem ter acesso ao Estádio Nacional Mané Garrincha.
Houve até jornalista que questionasse o nome do estádio, referindo-se à
homenagem ao grande jogador. Ninguém lembrou que o grande Mané Garrincha viveu
seus últimos dias no Distrito Federal, morrendo pobre e sem assistência na cidade
satélite de Sobradinho. À parte dos espetáculos...
À porta do estádio, alguns entreveros: manifestantes
empunhavam protestos, policiais posturavam-se na frágil passarela do discurso
que anunciava “é preciso garantir o direito de expressar-se, de manifestar-se,
mas também é preciso garantir ao cidadão que comprou seu ingresso o direito de assistir
ao espetáculo”, famílias e torcedores em geral vestiam-se com bandeiras e
alegrias meio tontas enquanto dirigiam-se aos portões de acesso. Nos céus,
helicópteros, aviões não tripulados, e nuvens numa tarde que fora anunciada
como ensolarada. Muitas nuvens, que redundaram em chuva durante a partida. Erros
de previsão acontecem, afinal...
À tarde, as pessoas se acotovelaram em torno de aparelhos
de televisão nos bares, nas casas, além do palco no gramado da Esplanada dos
Ministérios.
Mas houve também, e não foram poucos, aqueles que tenham
se mantido à parte da festa, observando criticamente o momento político e
econômico do país, a desfaçatez em que se encontra a saúde pública, ao lado da
educação e da segurança, ante os bilhões gastos para a construção de um estádio
que pouca serventia terá, e uma festa “para gringo japonês ver”.
Foram muitas as comemorações da vitória brasileira no
primeiro jogo. Finalmente Neymar voltou a apresentar seu bom futebol! Bebeu-se
ao grande feito. Dançou-se pelo grande feito. No domingo, a cidade amanheceu
com cara de ressaca. Cada um foi retomando sua vida, suas dívidas, os impostos
(cada vez mais caros) a pagar, as rezingas quotidianas, o cansaço do trabalho,
os pés doloridos no fim de cada dia...
Minha mãe sentencia: “se faltarem os trabalhadores, os
campesinos, a cidade não sobrevive; se a cidade acabar, os trabalhadores e os
campesinos inventam outra cidade; se os jogadores acabarem, todos continuam
vivendo...”
Disponível em emBrasília (facebook)
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