sexta-feira, 16 de novembro de 2012

a tal pós-modernidade...

Foi numa aula de metodologia de pesquisa, na pós-graduação.

Eu havia conversado com os estudantes sobre a necessidade de contextualização dos conceitos com os quais trabalhemos. Observava que nenhuma categoria conceitual é neutra, ou espontânea, tampouco ingênua: sempre está em jogo uma tomada de posição, uma escolha, uma demarcação de campo a partir de certo ponto de vista.

Logo, tentava alertá-los, quando adotassem certas referências, soubessem ser necessário apresentá-las, argumentar sua escolha, situá-las, defender sua posição.

E exemplifiquei com o termo tão em moda: pós-modernidade. O uso corrente, no senso comum, faz parecer, quase sempre, que seja um termo consensual, em relação ao qual nada mais haja a ser discutido: está dado. O que é um equívoco. Naquele caso, não cobraria deles que adentrassem as searas das discussões relativas à pós-modernidade, hiper-modernidade, modernidade tardia, ou mesmo às questões postas por alguns autores a respeito da própria categoria de modernidade (o que, para muitos, é discussão inglória e infrutífera...). Mas defendi que, se tomassem o partido da pós-modernidade, o fizessem cientes de que, por trás dela, havia tensões e dissensões.

Notei que haviam ficado preocupados. No decorrer dos dias, comecei a receber os trabalhos finais da disciplina. Entre eles, encontrei a pérola: um dos estudantes, apoiado sempre na ideia de pós-modernidade, encontrou um modo mais fácil de se livrar da discussão, referindo-se, sempre, da seguinte maneira: "... a tal pós-modernidade". Ou seja, se havia tensões e dissensões relativas àquela categoria conceitual, ele não tinha responsabilidades com isso... 

Uma solução quase pós-moderna...


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