sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Noite de premiação



p/ Martins Muniz, meu querido amigo, que ontem recebeu a Medalha de Mérito Cultural, concedida pelo Governo do Estado de Goiás.

Ele era um dos homenageados. Quando chegou, com a mulher, o filho e uma netinha, avistou a multidão apinhada em torno das mesas, numa sala apertada, abafada e calorenta. Hesitou. Não era afeito a esses acontecimentos, tampouco aos rituais sociais. O primeiro impulso a lhe ocorrer foi de ir-se embora. Mas ficou ali, parado, a meio caminho, tenso. As mãos frias, o coração disparado. O público não parava de chegar. Mulheres com seus melhores vestidos, cuidadosamente maquiadas, homens trajando ternos e blazers elegantes. Voltou ao jardim, onde se podia respirar ar fresco. A netinha, vestida de boneca, brincou com a bolsa da esposa dele, acompanhada pelos olhos cuidadosos do filho, que também o observava. Quando se iniciaram os discursos, encheu-se de coragem, e voltou ao saguão, observar a multidão. Comentou comigo que antes não sentia essa fobia. Perguntou onde os homenageados deveriam se posicionar. Ao fundo do salão, onde fora instalado o púlpito. Ponderou que não conseguiria chegar lá. Pensou em designar a alguém a tarefa de receber a medalha e o diploma em seu lugar. Ofereci-me para ir à frente, abrindo caminho, assim ele poderia chegar ao ponto, minimizadas as dificuldades para o seu deslocamento. Assim fizemos. Respirou fundo, encheu-se de coragem, e seguiu-me, com o passo miúdo e frágil, as articulações enrijecendo pela atrofia progressiva e os efeitos do mal de parkinson avançando. Ao meio do salão, tomou novo ânimo, e encaminhou-se, determinado, até uma cadeira desocupada, onde estavam alguns conhecidos que o acolheram. Sentou-se, e ficou ali, aguardando o momento de ser chamado. Recebeu a medalha e o diploma das mãos do governador, sob os olhares de muitas lentes, e os aplausos dos presentes. Em seguida, retomou o caminho para fora do salão. Mostrou o prêmio para a família e os amigos mais próximos. Aguardou algum tempo nos jardins, e foi-se embora. No salão, o som alto, o calor e a festa prosseguiram, sem que lhe dessem pela falta.

No caminho de casa, pensava nas providências a serem tomadas para fazer o próximo filme. O tumulto, o calor e as gentes que ocupam o set de gravações parecem-lhe bem menos ameaçadores... ao contrário...


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