sexta-feira, 22 de abril de 2016

Sons da manhã


Farfalhar de asas no ninho instalado ao lado da janela. Pios chiados dos filhotes recebendo alimento da mãe. Objetos pesados caem sobre o telhado da garagem, reverberando o som entre os dois edifícios. Longos gemidos cruzam a distância entre as janelas. No apartamento imediatamente acima, alguém arrasta objetos pesados, e o som da fricção atravessa o piso/teto que nos separa. O carro de som passa anunciando alguma coisa a que poucos dão atenção, apenas se inquietam com o volume da propaganda. Mais ao longe, pancadas repetidas martelam alguma construção. Do outro lado, sons metálicos da cozinha exalam odores de alimento sendo preparado. Buzinas de automóveis. Motoqueiros atravessam o cruzamento montados em seus cavalos motorizados. Os gemidos prosseguem, ao lado, longos, pesarosos. Ao fundo, ponteiros do relógio analógico marcam o tempo, continuamente. O motor da geladeira estremece, acionando a refrigeração. O som de centrifugação informa que o trabalho da máquina de lavar roupas é quase findo. A água fervente na chaleira sussurra borbulhas de calor. É bem mais discreta que a panela de pressão trabalhando, nas vizinhanças. Alguém ouve música sertaneja nalgum apartamento próximo. Voo ágil de pássaro adulto. Os filhotes de pombos agitam-se novamente, com a volta da mãe ao ninho. A brisa agita uma sacola de plástico, que se move em leves estalos. Alguém espirra, mais ao longe. Os sinos dos ventos dançam com a brisa, com sons leves de bambu chocando-se entre si. Água derrama-se de alguma torneira, em grande vasão. Alguém caminha conversando animadamente pela rua. Sua voz ecoa entre os edifícios e as árvores em torno. Um bem-te-vi manifesta-se, com seu grito debochado.

Mas nada, nada equipara-se ao burburinho dos meus pensamentos...









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