p/ Julio
No jardim da minha casa de infância, num canto da calçada havia um canteiro de violetas mimosas. As
folhas arredondadas, em tom verde-escuro, sobrepunham-se umas às outras,
ocultando as florinhas lilases que se abriam mais próximas ao chão. Encontrá-las
fazia parte do encantamento e dos mistérios da vida.
Elas estavam lá, eu sabia, ao alcance da mão. Mas eu
preferia imaginá-las de outra forma: ocultas, por detrás das folhas, o que se
passava com elas ficava sempre fora do meu alcance. Eu ficava observando
as folhas, tentando adivinhar o que estivesse a acontecer nas regiões de
sombra, que eu não conseguia ver. Se, num gesto rápido, eu afastasse as folhas,
de pronto o que quer que estivesse se passando ali, desapareceria, e já seriam
outros os processos deflagrados. De pouco adiantaria eu afastar as folhas de modo
discreto, sem brusquidão: tampouco eu desvendaria o que sucedia na sombra, fora
do alcance dos meus olhos, pois a circunstância se teria rompido.
Por isso as pequenas florinhas, por tão pequeninas que
fossem, eram também portadoras de um mistério capaz de enredar minha atenção durante
boas fatias do meu tempo de infância: estavam ali, ao alcance da minha mão, e
ao mesmo tempo não. Eram frágeis, mimosas, e ao mesmo tempo capazes de escapar
a qualquer captura, a qualquer determinação. Eu as podia ver desenvolverem-se. Era
eu quem as regava, todos os dias. Mas não podia suspeitar o que se passava com
elas, sob as folhas revestidas de verde-escuro. Jamais o saberia...
obrigadisimo, ou mistero fica nas pequenas coisas. pra quem sabe olhar.
ResponderExcluir