Em 1980 estudei, no curso de graduação, o livro Ciência e
Existência, do filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto. Nalgum momento do
texto, ele compartilhava a ideia de que o desenvolvimento da ciência deixaria
mais tempo livre para as pessoas. Assim, elas poderiam usufruir desse tempo com sua família,
fazendo coisas que lhes agradassem, desincumbidas dos afazeres do trabalho.
Essa ideia me pareceu, desde a primeira leitura, um
equívoco. Afinal, a substituição da atividade humana pelos recursos tecnológicos
significaria, antes de qualquer coisa, desemprego. Ou seja, eu via naquilo uma relação
matemática simples e direta, sem cálculos intermediários: tempo livre =
desemprego = problema.
35 anos depois, com os recursos tecnológicos penetrando nossas vidas de modo inimaginável para o autor àquela época, o sistema capitalista
produtivista no qual estamos irremediavelmente imersos não permitiu sequer que
nos déssemos conta da possibilidade de tempo livre: as tarefas se multiplicaram
em progressão geométrica, esfarinhando o tempo que se perde em vãos invisíveis. A existência ficou mais estressada, a velocidade acelerada, as pausas violadas...
Tempo livre? Era o que eu tinha, quando pude ler as 537
páginas do livro Ciência e Existência, integralmente, para uma disciplina de
primeiro semestre do curso de graduação...
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