terça-feira, 2 de junho de 2015

Tempo livre, ciência e existência


Em 1980 estudei, no curso de graduação, o livro Ciência e Existência, do filósofo brasileiro Álvaro Vieira Pinto. Nalgum momento do texto, ele compartilhava a ideia de que o desenvolvimento da ciência deixaria mais tempo livre para as pessoas. Assim, elas poderiam usufruir desse tempo com sua família, fazendo coisas que lhes agradassem, desincumbidas dos afazeres do trabalho.

Essa ideia me pareceu, desde a primeira leitura, um equívoco. Afinal, a substituição da atividade humana pelos recursos tecnológicos significaria, antes de qualquer coisa, desemprego. Ou seja, eu via naquilo uma relação matemática simples e direta, sem cálculos intermediários: tempo livre = desemprego = problema.

35 anos depois, com os recursos tecnológicos penetrando nossas vidas de modo inimaginável para o autor àquela época, o sistema capitalista produtivista no qual estamos irremediavelmente imersos não permitiu sequer que nos déssemos conta da possibilidade de tempo livre: as tarefas se multiplicaram em progressão geométrica, esfarinhando o tempo que se perde em vãos invisíveis. A existência ficou mais estressada, a velocidade acelerada, as pausas violadas...

Tempo livre? Era o que eu tinha, quando pude ler as 537 páginas do livro Ciência e Existência, integralmente, para uma disciplina de primeiro semestre do curso de graduação...





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