Quando cheguei àquele lugar, encantei-me com o jardim interno. Dele vinha um frescor em tons de verde, misturados a tons de terra. As árvores portavam flores, macacos, pássaros. E o chão se deixava cobrir pelas folhas caídas. Uma lindeza.
Houve um dia quando, fazendo um atalho entre as plantas, deparei-me com o chão coberto por pequeninas estrelas lilases. Suspirei ante o inesperado. Fui levantando os olhos, e encontrei lá acima, muito acima, pendões com as florinhas ondulando ao vento. A trepadeira agarrava-se a um dos pilares, e esparramava-se no alto, espargindo flores.
Demorei algum tempo até descobrir-lhe o nome. Petréia. Também conhecida como viuvinha. Em cor lilás ou branca. Encantamento do começo ao fim. Todos os anos, eu esperava pela época quando ela nos presentearia com sua floração.
Afinal, nossa faculdade mudou-se para um novo prédio, e aquele começou a ser reformado. Hoje, caminhando pelas rampas, fui avistando o chão coberto por uma camada de brita, e as plantas tentando alongar-se acima dela, de sua hostilidade, de sua rispidez. Senti falta do limo, das formigas, das folhas desfazendo-se. Segui um pouco mais, observando a convivência pouco confortável dos troncos com a brita, até chegar ao pilar vazio. Um vazio que se alongou até o alto, sem uma tênue lembrança, sequer, das estrelas lilases pendendo ao vento.
A petréia foi arrancada do jardim. Em alguma medida, foi poupada do convívio com a rispidez da brita. O jardim não perdeu só o brilho: teve subtraídas suas estrelas lilases...
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