Dona Dirce trabalha como diarista, de segunda a sábado, em
três residências no centro da cidade. Sai de casa, todos os dias, às 5h da
manhã, rumo à parada de ônibus. Já no caminho, vai encontrando as amigas. Estrategicamente,
mantêm-se em grupo, para evitar maiores riscos em função da violência urbana,
principalmente nas periferias mais distantes.
Dona Dirce é alta, sorridente, gesto amplo, conta histórias,
faz graças, conversa com todos. É dessas gentes que agregam as pessoas, estabelecendo vínculos de afeto. Para cada um, tem uma pergunta, dá uma notícia,
faz um afago. No ônibus, do motorista ao passageiro sentado na última poltrona,
conversa com todos. Assim, nem vê o tempo passar.
Quase duas horas depois de
ter saído de casa, ela desembarca nas cercanias de seu trabalho. No meio da
tarde, segue de volta, reencontrando alguns companheiros da manhã, e revendo
outros velhos conhecidos com quem só partilha a viagem de volta. Conversam sobre
os afazeres do dia, e os planos para a vida. Divertem-se.
Sentada numa banqueta da cozinha, enquanto toma um gole de
café, ela me conta que as coisas andam mudadas. “A mulherada, agora, só
anda é com a cabeça baixa, esfregando aquele dedo no celular. É o tal
do zap zap! Professora, é um silêncio que só, naquele ônibus! Ninguém conversa mais! De vez em quando,
uma solta uma gaitada, rindo sozinha, que parece até louca. Eu só fico olhando,
e achando graça. Eu, que nem tenho esse zap zap, né, professora?”
Ultimamente, quando consegue viajar sentada, Dona Dirce até
tira uns cochilos ao longo do percurso. Coisa que ela nem pensava em fazer,
antes do advento do zap zap...
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