Menina
com as Espigas (Menina com Flores) Pierre-Auguste Renoir. Acervo do MASP.
Não lembro muito ao certo quantos anos eu tinha. Sei que foi
entre os 5 e os 9. Tirando uma média, escolho imaginar que tenha sido por volta
dos 7. Também não sei quem levou aquela imagem lá para casa. Era a reprodução
de uma pintura, onde havia uma menina, linda, entre uma festa de cores. Um
pequeno texto informava tratar-se de uma menina com espigas. Confesso que
nunca fui convencida de que ali houvesse espigas, tendo em conta as espigas de milho com as quais eu mesma lidava, diariamente, em casa. Não, aquilo não eram espigas... Mas isso em nada alterava meu
encantamento pela imagem, ao contrário. Tanto que, munida de uma pequena tela, pincéis e
tinta a óleo, tratei de inventar a minha própria menina loura, imersa numa
festa de cores. Ao meu jeito. Ela ficou dependurada na parede do quarto, ao
lado da minha cama. Ela ficou lá, dependurada entre as imagens que me
constituíram, na infância, e que também ficaram lá, e eu cada vez mais distante,
à medida que fui seguindo por estradas que me levaram a quantas outras imagens,
até chegar aos territórios por onde sigo transitando hoje, tantos sóis e tantas
luas depois.
A menina loura, numa festa de cores. Uma página impressa,
uma tela pintada, uma parede, um quarto, a mata, a estrada, memórias.
Noutro dia, a menina saltou à minha frente, na tela do
computador. Portadora da mesma fisionomia e encantamento. Era aniversário de
seu criador, Renoir, nascido em Limoges, aos 25 dias de fevereiro de 1841. Ela celebra,
em festa, com uma explosão de cores.
Os olhos redondos da menina estremeceram a menina que um dia
eu fui.
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