quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Metacinema e Os Mercenários



Um grupo de bandidos orientais (há alguma diferença entre bandidos e mercenários?...) tem um refém preso a uma cadeira, com as mãos para trás e um saco cobrindo seu rosto. O líder tortura esse prisioneiro, espancando-o, ameaçando-o de morte. Mas ele nada fala, e não faz um movimento sequer. Parece desmaiado. À frente, um senhor oriental está deitado, ensanguentado. Parece vivo, ainda. Também é prisioneiro.

Enquanto isso, um grupo conduzindo veículos multifuncionais, blindados, armados por todos os lados, avança sobre o forte onde essa cena se passa. Matam tudo e todos quantos lhes cruzem o caminho, ou estejam, ao acaso, nas cercanias. Aos poucos, é revelada ao espectador a face de cada um deles: atores famosos de filmes de ação norte-americanos, todos reunidos na mesma produção. A maior parte deles já na meia idade, divertindo-se em fazer o de sempre: contar, no cinema, a mesma história. Divertem-se no percurso. Chegam, afinal, ao salão onde estão os dois prisioneiros. Depois de terem “limpado a área”, Stallone, o velho Rambo, líder do bando, revela o rosto do prisioneiro, tirando-lhe o saco da cabeça. É ninguém menos que Arnold Schwarzenegger, cuja fala primeira formula uma queixa quanto à demora dos parceiros. Em seguida, reivindica uma arma “bem grande”. Olha para Terry Crews, especialista em armamento pesado. Quero essa sua, grunhe. Terry Crews se recusa a lhe emprestar, mas Stallone intercede, sugerindo que ele use a de reserva. Terry, então ameaça Arnold, enquanto lhe entrega a preciosidade: Se você não devolver, eu extermino você! Nem no futuro, é a resposta de Arnold, numa referência ao filme Exterminador do futuro, Terminator no título original (o tradutor tratou de fazer uma gambiarra para encaixar a versão do título em português).

Os Mercenários, The Expendables, foi escrito por David Callaham e Sylvester Stallone. Este é, também, o diretor e assume o papel principal (papel principal?...). Com a primeira produção lançada em 2010, desde então o projeto emplacou 3 continuações. De fato, o papel principal não é de Stallone, mas do cinema de ação norte-americano. O mérito de Stallone foi reunir, na mesma produção, todos os caras maus que andam por aí, matando gente em nome da defesa sabe-se lá de quem ou do quê (além de seu próprio faturamento, é claro). Sempre sozinhos, lutando contra todos os bandidos do mundo, nessa versão do mesmo filme de ação norte-americano, eles resolveram reunir suas fúrias, sua sanha de matar, sua sede de limpar a humanidade de seus inimigos, e andam em bando, fazendo a mesma e única coisa que sabem fazer.

Mas o tempo é implacável até com esses caras. Os jovens que encaravam o mundo sem medo estão coroas. Stallone apresenta barbas grisalhas. Os corpos continuam musculosos, mas sem o viço de há algumas décadas. A pele já ressente dos tratamentos recorrentes. Contudo, eles parecem não se importar. Divertem-se recontando, em bando, a mesma história que cada um vem contando, há décadas, sozinho. Divertem-se, sobretudo, vendo suas contas bancárias ficando recheadas com os lucros resultantes dessa única história que sabem contar e, mais que isso, sabem vender como ninguém.

Um viva as membros do Sistema CooperAção Amigos do Cinema, que também andam em bando, fazendo filmes artesanais, sem custos, e se divertindo muito! Só não sabem vender...





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