Um grupo de bandidos orientais (há alguma diferença
entre bandidos e mercenários?...) tem um refém preso a uma cadeira, com as mãos
para trás e um saco cobrindo seu rosto. O líder tortura esse prisioneiro,
espancando-o, ameaçando-o de morte. Mas ele nada fala, e não faz um movimento
sequer. Parece desmaiado. À frente, um senhor oriental está deitado,
ensanguentado. Parece vivo, ainda. Também é prisioneiro.
Enquanto isso, um grupo conduzindo veículos multifuncionais,
blindados, armados por todos os lados, avança sobre o forte onde essa cena se
passa. Matam tudo e todos quantos lhes cruzem o caminho, ou estejam, ao acaso,
nas cercanias. Aos poucos, é revelada ao espectador a face de cada um deles:
atores famosos de filmes de ação norte-americanos, todos reunidos na mesma produção. A maior
parte deles já na meia idade, divertindo-se em fazer o de sempre: contar, no
cinema, a mesma história. Divertem-se no percurso. Chegam, afinal, ao salão
onde estão os dois prisioneiros. Depois de terem “limpado a área”, Stallone, o
velho Rambo, líder do bando, revela o rosto do prisioneiro, tirando-lhe o saco da cabeça. É ninguém
menos que Arnold Schwarzenegger, cuja fala primeira formula uma queixa quanto à
demora dos parceiros. Em seguida, reivindica uma arma “bem grande”. Olha para Terry
Crews, especialista em armamento pesado. Quero
essa sua, grunhe. Terry Crews se recusa a lhe emprestar, mas Stallone
intercede, sugerindo que ele use a de reserva. Terry, então ameaça Arnold,
enquanto lhe entrega a preciosidade: Se
você não devolver, eu extermino você! Nem no futuro, é a resposta de Arnold,
numa referência ao filme Exterminador do
futuro, Terminator no título original
(o tradutor tratou de fazer uma gambiarra para encaixar a versão do título em
português).
Os Mercenários, The
Expendables, foi escrito por David Callaham e Sylvester Stallone. Este é,
também, o diretor e assume o papel principal (papel principal?...). Com a primeira produção
lançada em 2010, desde então o projeto emplacou 3 continuações. De fato, o papel
principal não é de Stallone, mas do cinema de ação norte-americano. O mérito de
Stallone foi reunir, na mesma produção, todos os caras maus que andam por
aí, matando gente em nome da defesa sabe-se lá de quem ou do quê (além de seu próprio faturamento, é claro). Sempre sozinhos,
lutando contra todos os bandidos do mundo, nessa versão do mesmo filme de ação
norte-americano, eles resolveram reunir suas fúrias, sua sanha de matar, sua
sede de limpar a humanidade de seus inimigos, e andam em bando, fazendo a mesma
e única coisa que sabem fazer.
Mas o tempo é implacável até com esses caras. Os jovens que
encaravam o mundo sem medo estão coroas. Stallone apresenta barbas grisalhas. Os
corpos continuam musculosos, mas sem o viço de há algumas décadas. A pele já
ressente dos tratamentos recorrentes. Contudo, eles parecem não se importar. Divertem-se
recontando, em bando, a mesma história que cada um vem contando, há décadas,
sozinho. Divertem-se, sobretudo, vendo suas contas bancárias ficando recheadas com
os lucros resultantes dessa única história que sabem contar e, mais que isso,
sabem vender como ninguém.
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