sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

João da Estrada





No domingo, eu me atrasei. Quando cheguei ao local de filmagens, para fazer o still, quase todos já estavam a postos, organizando o espaço, fazendo marcações, decorando texto. Além do grupo de atores, e dos técnicos que operam equipamentos, gravam, cuidam do som, luz, etc., achegam-se também outras gentes: uns tratam de fazer registros do processo, outros observam, curiosos, outros conversam à volta. Eu não conhecia todos ali. Foi assim que fiquei sem saber a qual categoria aquele homem pertencia: amigo de alguém? curioso? artista excêntrico? Entre o movimento, ele observava, com mansidão, e eu o observava. Meus olhos teimavam em buscá-lo. Eventualmente, ele acompanhava as gravações lendo algum roteiro deixado à mão. Discutiam-se as cenas, modificavam-se sequências, repetiam-se as tomadas. E ele ali. Depois todos se reuniam para verificar o que havia sido gravado, e certificar-se de que não seria necessário fazer mais tomadas. Ele acompanhava o grupo. Mais tarde, terminados os trabalhos, foi servido o almoço. Momento de celebração coletiva, da qual ele tomou parte, respeitosamente tirando o gorro. Só mais tarde eu pude confirmar que, de fato, ali ninguém o conhecia. Chegara logo no início da manhã. E permanecera, integrado ao movimento das pessoas, cada qual com seus próprios estranhamentos, de modo que acabou não se sentindo tão desigual. No meio da tarde, ele contava uma história mirabolante a uma pequena audiência. João da Estrada, passou a ser referido, depois do episódio. Andarilho. Seguiu seu rumo, que é qualquer um. Seguiu assim, sem documentos, deixando pouco ou quase nenhum rastro. Apenas esta imagem, entre as formas orgânicas do cerrado, criadas pelo querido Noé Luiz da Mota, na Catedral das Artes.




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