Levei toda a documentação indicada para solicitar o registro
de meu livro. À entrada, um funcionário, com uma gentileza incomum, indicou-me
a roleta de acesso, e a sala onde eu seria atendida. Ali, uma moça simpática
estava recebendo a documentação de um senhor, visivelmente emocionado, trajando
terno cinza escuro, camisa clara e gravata. Os sapatos impecavelmente
engraxados e o cabelo cuidadosamente penteado eram sinais inequívocos da
importância ritual daquele momento para o candidato a escritor. Uma solenidade. Aguardei até
que a moça concluísse o procedimento. Então ele, alegre,
perguntou se eu me importaria de aguardar ainda mais alguns minutos, para que a
moça fizesse um retrato dele à frente da Biblioteca, para registrar aquele
momento memorável. Afinal, não é todo dia
que a gente traz um livro da gente para fazer o registro autoral, não é? Eu sorri,
solidária com seu sentimento, e fiquei aguardando. Quando ambos retornaram, ele
me agradeceu mais uma vez pela paciência, e perguntou-me, cúmplice, se eu
também estava ali para registrar um livro meu. Sentiu-se acompanhado, com a
minha afirmativa, e saiu da sala, e da Biblioteca, radiante.
Perguntei se ela fazia muitas fotos dos autores que traziam
seus livros para registrar. Isso é todo
dia, respondeu-me, compreensiva e suave. Principalmente com aqueles que vêm do interior, para quem o registro de
uma obra literária é motivo de orgulho, e uma aventura, completou.
De alguma forma, senti que talvez eu tivesse perdido alguma
faísca de encantamento pelo caminho, pois já não me sentia exatamente comovida
por estar solicitando, também, o registro de um livro meu. Por outro lado,
sentia-me, sim, comovida por testemunhar aquele momento, com o autor
desconhecido, seu livro, a funcionária da Biblioteca, e o ambiente acolhedor – embora
despretensioso – da Biblioteca Demonstrativa de Brasília. Ressalte-se a
importância de tê-la, na região Centro-Oeste. Ao lado da Biblioteca Nacional,
do Rio de Janeiro, ela integra a Fundação Biblioteca Nacional, ligada ao
Ministério da Cultura. O senhor de terno cinza tinha razão de estar comovido
naquele momento.
Quando saí dali, sentia-me feliz, por me saber usuária de
uma instituição pública que, sem estardalhaço, cumpre seu papel social,
cultural, educativo, de modo tão competente, elegante, humano, no decurso do
tempo, de longo tempo, e cujos funcionários têm orgulho de fazer o que lhes compete!
Sinto-me profundamente entristecida hoje, ao saber que o
prédio da Biblioteca foi interditado. Não são novidade todas as pressões
políticas que concorrem para a ocupação do lugar por interesses outros,
escusos. Isso agrava as preocupações.
Talvez eu tenha perdido, mesmo, uma boa oportunidade de também fazer
um retrato à frente da Biblioteca. Talvez eu deva fazer um, agora, com as fitas
de interdição, e os cartazes assinados por funcionários e pela comunidade,
todos preocupados com os destinos da Biblioteca...
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