sexta-feira, 16 de maio de 2014

Salvemos a Biblioteca Demonstrativa de Brasília, patrimônio nosso!





Levei toda a documentação indicada para solicitar o registro de meu livro. À entrada, um funcionário, com uma gentileza incomum, indicou-me a roleta de acesso, e a sala onde eu seria atendida. Ali, uma moça simpática estava recebendo a documentação de um senhor, visivelmente emocionado, trajando terno cinza escuro, camisa clara e gravata. Os sapatos impecavelmente engraxados e o cabelo cuidadosamente penteado eram sinais inequívocos da importância ritual daquele momento para o candidato a escritor. Uma solenidade. Aguardei até que a moça concluísse o procedimento. Então ele, alegre, perguntou se eu me importaria de aguardar ainda mais alguns minutos, para que a moça fizesse um retrato dele à frente da Biblioteca, para registrar aquele momento memorável. Afinal, não é todo dia que a gente traz um livro da gente para fazer o registro autoral, não é? Eu sorri, solidária com seu sentimento, e fiquei aguardando. Quando ambos retornaram, ele me agradeceu mais uma vez pela paciência, e perguntou-me, cúmplice, se eu também estava ali para registrar um livro meu. Sentiu-se acompanhado, com a minha afirmativa, e saiu da sala, e da Biblioteca, radiante.



Perguntei se ela fazia muitas fotos dos autores que traziam seus livros para registrar. Isso é todo dia, respondeu-me, compreensiva e suave. Principalmente com aqueles que vêm do interior, para quem o registro de uma obra literária é motivo de orgulho, e uma aventura, completou.



De alguma forma, senti que talvez eu tivesse perdido alguma faísca de encantamento pelo caminho, pois já não me sentia exatamente comovida por estar solicitando, também, o registro de um livro meu. Por outro lado, sentia-me, sim, comovida por testemunhar aquele momento, com o autor desconhecido, seu livro, a funcionária da Biblioteca, e o ambiente acolhedor – embora despretensioso – da Biblioteca Demonstrativa de Brasília. Ressalte-se a importância de tê-la, na região Centro-Oeste. Ao lado da Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro, ela integra a Fundação Biblioteca Nacional, ligada ao Ministério da Cultura. O senhor de terno cinza tinha razão de estar comovido naquele momento.



Quando saí dali, sentia-me feliz, por me saber usuária de uma instituição pública que, sem estardalhaço, cumpre seu papel social, cultural, educativo, de modo tão competente, elegante, humano, no decurso do tempo, de longo tempo, e cujos funcionários têm orgulho de fazer o que lhes compete!



Sinto-me profundamente entristecida hoje, ao saber que o prédio da Biblioteca foi interditado. Não são novidade todas as pressões políticas que concorrem para a ocupação do lugar por interesses outros, escusos. Isso agrava as preocupações.



Talvez eu tenha perdido, mesmo, uma boa oportunidade de também fazer um retrato à frente da Biblioteca. Talvez eu deva fazer um, agora, com as fitas de interdição, e os cartazes assinados por funcionários e pela comunidade, todos preocupados com os destinos da Biblioteca...








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