Na Europa da Idade Média, os feudos estabeleciam as relações
geopolíticas, em torno de reis, seus castelos e riquezas, e seus súditos.
A ascensão da burguesia, com a bandeira da liberdade
empunhada, evocando a democracia, instalou de modo irrevogável a instituição
do Estado-nação como unidade de organização primaz dos povos – a partir da
visão eurocêntrica.
O Estado como superação dos feudos.
O entrecruzamento da instauração do Estado, dos processos de
industrialização e do capitalismo resultou no esboço do que passou a ser a
noção de cidadania. Evocou-se o direito à escolarização para todos, bem como ao
ingresso no mercado de trabalho e ao poder de compra de todos os itens
produzidos nesse mercado. Direitos: a palavra de ordem.
Esse cidadão só não tem direito a existir fora do Estado. A
condição cidadã assim esboçada é condição única, não há opção B, ou nenhuma
dessas alternativas. Em contrapartida, o cidadão deve financiar o Estado: na
forma das taxas, dos impostos compulsórios, financia a estrutura estatal, que funciona por
meio de mecanismos e acordos situados muito além dos círculos nos quais tem
autorização para circular. Mas ele ainda crê em seu poder, em sua autonomia de decisão, no poder do voto para a representação de seus interesses e pontos de vista...
Estudos recentes apontam a corrupção como um dos grandes problemas que
minas as estruturas de todos os Estados-nação contemporâneos, sem exceção, não
importa se em governos de esquerda ou de direita. Sem, mesmo, excluir os
paladinos da moral internacional e defensores da democracia: a Inglaterra e os
Estados Unidos da América do Norte. Os impactos desses indicadores são importantes na economia internacional e interdependente, e repercute significativamente na vida das pessoas comuns (mesmo quando não se tenha noção disso).
Os maiores montantes desviados pela corrupção resultam da sonegação de impostos por parte dos poucos – pouquíssimos – que concentram a maior parte do capital do planeta. Afinal, é sabido que uma parcela mínima da população planetária concentra mais que 90% do capital circulante.
Os maiores montantes desviados pela corrupção resultam da sonegação de impostos por parte dos poucos – pouquíssimos – que concentram a maior parte do capital do planeta. Afinal, é sabido que uma parcela mínima da população planetária concentra mais que 90% do capital circulante.
Assim, temos os Estados-nação à direita e à esquerda, articulados
ao capital – que é transnacional, e desconsidera fronteiras geopolíticas – a
reordenar os feudos em eras que se pretendem pós-modernas, ou pós-históricas...
Ao que tudo indica, a era das trevas, da Idade Média, ainda
não recuou, de fato. E o Iluminismo, a racionalidade, o Estado democrático
talvez não tenham passado de delírios coletivos entre os herdeiros da tradição
europeia...
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