sábado, 3 de maio de 2014

Os Estados-feudos contemporâneos


Na Europa da Idade Média, os feudos estabeleciam as relações geopolíticas, em torno de reis, seus castelos e riquezas, e seus súditos.

A ascensão da burguesia, com a bandeira da liberdade empunhada, evocando a democracia, instalou de modo irrevogável a instituição do Estado-nação como unidade de organização primaz dos povos – a partir da visão eurocêntrica.

O Estado como superação dos feudos.

O entrecruzamento da instauração do Estado, dos processos de industrialização e do capitalismo resultou no esboço do que passou a ser a noção de cidadania. Evocou-se o direito à escolarização para todos, bem como ao ingresso no mercado de trabalho e ao poder de compra de todos os itens produzidos nesse mercado. Direitos: a palavra de ordem.

Esse cidadão só não tem direito a existir fora do Estado. A condição cidadã assim esboçada é condição única, não há opção B, ou nenhuma dessas alternativas. Em contrapartida, o cidadão deve financiar o Estado: na forma das taxas, dos impostos compulsórios, financia a estrutura estatal, que funciona por meio de mecanismos e acordos situados muito além dos círculos nos quais tem autorização para circular. Mas ele ainda crê em seu poder, em sua autonomia de decisão, no poder do voto para a representação de seus interesses e pontos de vista...

Estudos recentes apontam a corrupção como um dos grandes problemas que minas as estruturas de todos os Estados-nação contemporâneos, sem exceção, não importa se em governos de esquerda ou de direita. Sem, mesmo, excluir os paladinos da moral internacional e defensores da democracia: a Inglaterra e os Estados Unidos da América do Norte. Os impactos desses indicadores são importantes na economia internacional e interdependente, e repercute significativamente na vida das pessoas comuns (mesmo quando não se tenha noção disso). 

Os maiores montantes desviados pela corrupção resultam da sonegação de impostos por parte dos poucos – pouquíssimos – que concentram a maior parte do capital do planeta. Afinal, é sabido que uma parcela mínima da população planetária concentra mais que 90% do capital circulante.

Assim, temos os Estados-nação à direita e à esquerda, articulados ao capital – que é transnacional, e desconsidera fronteiras geopolíticas – a reordenar os feudos em eras que se pretendem pós-modernas, ou pós-históricas...

Ao que tudo indica, a era das trevas, da Idade Média, ainda não recuou, de fato. E o Iluminismo, a racionalidade, o Estado democrático talvez não tenham passado de delírios coletivos entre os herdeiros da tradição europeia...




Nenhum comentário:

Postar um comentário