Na garagem do prédio onde moro, dentre os quantos, um
problema multiplica-se dia a dia: muitas camionetes com cabine dupla insistem em se abrigar em vagas
projetadas para carros de passeio. Resulta que avançam entre meio metro e um
metro na área de circulação e manobra: área de uso comum.
No início, era uma camionete. Depois duas. Então várias. O síndico
explica: é que aumentou o poder aquisitivo dos moradores! Eu respondo: enquanto
isso, a capacidade de convívio em coletividade vai atrofiando, juntamente à
civilidade...
Mas não é só na garagem do meu prédio que os carros são
estacionados de maneira indevida, desrespeitando o princípio da civilidade:
essa situação reflete uma outra, muito mais grave, replicada aos milhares nas
ruas, praças, passeios, e demais locais públicos, onde o cenário é, no mínimo, cabuloso.
Um repórter do Jornal O Popular circulou pela cidade durante
6h, anotando infrações de trânsito. Passou por vários bairros, no centro e mais
afastados, bairros populares e de elite. Notem: ele não é especialista no
assunto, e o fez em circulação, o que talvez restrinja a observação de certos
tipos de infração em favor de outros. Sua jornada resultou no registro de 285
infrações, que incluíram: dirigir falando ao telefone celular; dirigir sem
cinto; avançar no sinal vermelho; etc. Mas o recorde esteve no quesito “estacionamento
em lugar proibido”: em cima de calçadas, em fila dupla, em esquinas, sobre
faixa de pedestres, impedindo passagem, etc.
Ora. Se, como diz o síndico do meu prédio, o poder
aquisitivo das classes emergentes aumenta, a pressão do mercado e do próprio
Estado é pela aquisição de seu carro novo. Goiânia está entre as cidades
brasileiras com a maior frota de carros per capita. E tem, de longe, a maior
frota de motocicletas per capita.
Sem qualquer política voltada para a educação no trânsito,
prevalece o espírito competitivo, segundo o qual as palavras de ordem são: eu
primeiro, o meu agora, esse lugar para mim, vire-se!
Não é à toa que, em 2013, Goiânia registrou 314 mil multas
por excesso de velocidade em 11 meses. Cerca de 951 multas por excesso de velocidade a cada dia! A indústria das multas é lucrativa para
o Estado, tanto quanto a indústria automobilística e de motocicletas. Talvez
isso explique a omissão do Estado em relação ao disciplinamento, fiscalização e
educação no tocante ao trânsito.
Embora tenha algum sabor de clichê, não resisto à tentação
de repetir a velha referência ao filme de animação de Disney, “O senhor volante”,
realizado ainda na década de 50. Que filmes faria ele, vivesse hoje?
fonte: Senhor Volante
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