quarta-feira, 27 de março de 2013

Passagens entre cinema e arte contemporânea: para um “cinema de exposição”






Desde há pouco mais de 20 anos, em crescente grau de intensidade, o cinema e a arte contemporânea têm manifestado formas de aproximação mútua que tomam a forma de múltiplas e variadas relações.  A mais evidente é, sem dúvida, a recuperação, mais frequente em espaços expositivos, de obras ou de imagens cinematográficas, convocada por meio de instalações, projeções, e vários dispositivos. A presença muito clara de uma espécie de "efeito cinema" na arte contemporânea opera tanto literalmente por "exposição" (mais ou menos transformadas) de filmes, como pela reciclagem de fragmentos de arquivos de filme, ou a reconstituição do filme de referência (como se diz na reconstituição de um crime), por vezes é menos o caso de migração de imagens que de migração dos dispositivos (trabalho sobre a forma das salas, da tela, da projeção, da postura do espectador, etc.), outras vezes, mais indiretamente, talvez mesmo de maneira francamente metafórica, ela segue por paralelos, alusões, coincidências e semelhanças formais ou conceituais.

Por outro lado, simetricamente, é possível notar que, no centro da indústria e da instituição cinematográfica, muitos cineastas manifestam uma crescente tomada de consciência das questões da cena artística (por exemplo, pensar o filme como museu, ou opor um valor de exposição do cinema a um valor de projeção), ou abrem seu trabalho a experiências de figuração e estruturação “plásticas”, ou às novas apresentações visuais (sob a forma de instalações ou de performances), quando não se transformam, eles próprios, em “curados” da exposição.

Finalmente, no plano histórico, é preciso não esquecer, que, desde algum tempo, o domínio do chamado “cinema experimental” (cinema expandido ou montagens com filmes já realizados), e mesmo o vídeo-arte (desde a vídeo-escultura à instalação-projeção) têm cumprido um papel de transitar na interseção midiática entre a arte e o cinema.


Philippe Dubois é professor no Departamento de Cinema e Audiovisual da  Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3, onde é titular da cadeira de Teorias das formas visuais. Entre os livros publicados, estão: O ato fotográfico, e La Question vidéo. Entre cinéma et art contemporain (éd. Yellow Now, 2012)




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