terça-feira, 12 de março de 2013

amar em Brasília


Vou passando pelos viadutos, em direção às superquadras 100. Observo as marcas do tempo no concreto. Orquídeas florescem tons lilases no tronco de uma palmeira, entre o semáforo e os edifícios. Nos anos 60, Clarice Lispector escreveu um conto que leva o nome da cidade. Ali comenta, entre outras impressões sobre seu estranhamento com o lugar: "A hera ainda não cresceu"... Noto que, meio século depois, a hera já deitou morada. E o horizonte se mantém como plataforma da cidade. O mesmo horizonte suave que sustenta a cúpula do céu sobre nossas cabeças. 

Eu aprendi a amar aqui. Talvez por isso meu amor tenha esse jeito de horizonte. Ondulações leves, sem aclives ou declives assustadores. Sem precipícios. Paisagem que faz o distante parecer próximo. Então não quero parar de caminhar, mas nem é preciso me desabalar em corrida desenfreada. Esse amor tem as marcas da força e da calma, em lugar da vertigem e da tempestade. 

A hera, deitando morada, multiplica seus braços, sem afoiteza. O tempo, estendido no horizonte, segue seu curso lentamente. Irreversível. Indelével. 

Meu amor quer ser assim.




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