Vou passando pelos viadutos, em direção às superquadras 100. Observo as marcas do tempo no concreto. Orquídeas florescem tons lilases no tronco de uma palmeira, entre o semáforo e os edifícios. Nos anos 60, Clarice Lispector escreveu um conto que leva o nome da cidade. Ali comenta, entre outras impressões sobre seu estranhamento com o lugar: "A hera ainda não cresceu"... Noto que, meio século depois, a hera já deitou morada. E o horizonte se mantém como plataforma da cidade. O mesmo horizonte suave que sustenta a cúpula do céu sobre nossas cabeças.
Eu aprendi a amar aqui. Talvez por isso meu amor tenha esse jeito de horizonte. Ondulações leves, sem aclives ou declives assustadores. Sem precipícios. Paisagem que faz o distante parecer próximo. Então não quero parar de caminhar, mas nem é preciso me desabalar em corrida desenfreada. Esse amor tem as marcas da força e da calma, em lugar da vertigem e da tempestade.
A hera, deitando morada, multiplica seus braços, sem afoiteza. O tempo, estendido no horizonte, segue seu curso lentamente. Irreversível. Indelével.
Meu amor quer ser assim.
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