domingo, 10 de fevereiro de 2013

performance para liberar placentas presas


O galo já havia cantado uma vez, quando minha irmã, a segunda filha, nasceu. Passava, portanto, da meia noite, hora devidamente registrada em cartório, na certidão de nascimento.

Ocorre que, nascida a criança, não tinha quem fizesse o organismo expelir a placenta. A parteira, aflita apesar de toda a experiência e de todas as vidas trazidas ao mundo por suas mãos, resolveu arriscar uma última tentativa. Para isso, precisava contar com a disposição de meu pai, sujeito carrancudo, de poucas conversas, mas que também estava nervoso com a situação.

Pedagogicamente, explicou o procedimento: Compadre, o senhor vai sair, vai dar uma volta em torno da casa, e vai chegar pela porta da frente. Com o chapéu na mão, vai entrar no quarto e dar boa noite.

Teria que repetir três vezes.

Ele fez. No breu da madrugada, caminhou em torno da casa, entrou pela sala, e à porta do quarto, com o chapéu na mão, deu boa noite. Minha mãe respondeu. Então ele saiu. Ela ficou atenta, ouvindo os passos do marido ressoando à volta da casa. E esperou para responder os votos de boa noite pela segunda vez. Na terceira vez, a placenta se soltou.


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