terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

aprendizagens indeléveis


Queria comprar metros de cordas, cordões, fios grossos de nylon. Fui atendida por um rapaz e um meninote. Para medir 30m de uma corda de algodão, o menino marcou 7,5m, dobrou, fez nova dobra: 7,5 x 2 x 2 = 30. Rapidamente, enovelou tudo entre o dedão da mão esquerda e o ombro, girando a corda com a mão direita. Pronto! O que mais?

Em seguida, pedi 20m de um cordão preto e 20m de outra corda. Então os dois puseram-se à empreitada: 5 x 2 x 2 = 20. Apesar da habilidade do meninote, o rapaz foi muito mais ágil, e terminou com largo espaço de tempo antes dele. Para sua surpresa. Eu me diverti ante a quase competição entre ambos. 

O rapaz decretou, quase vaidoso: Eu faço isso desde meus 5 anos, cara! Perguntei, então, com quem ele fora iniciado àquele afazer, já aos 5 anos. Com meu pai, no mercado. Era possível sentir o orgulho pulsante em sua fala. Pequenino, aprendera com o pai aquilo que seu corpo jamais esqueceria.

Fizeram as contas para chegar aos valores totais que eu deveria pagar, lançando mão de cálculos de funções matemáticas, daquelas que os estudantes penam em sala de aula para compreender. Para eles, era tudo muito fácil e rápido. Demorei alguns segundos para compreender os procedimentos que haviam adotado, e acompanhá-los com curiosidade e prazer. O uso da calculadora parecia cumprir o papel de mera demonstração para mim, cliente, de que não estavam inventando valores. 

À educação escolar cabe o desafio de reaprender o caminho que leve as aprendizagens de volta aos sentidos e aos afetos. O que não significa minimizar a complexidade dos procedimentos. Ao contrário: não é diminuindo a qualidade ou o rigor das aprendizagens que estabelecemos vínculo com a vida. 

A vida! Tão desafiadora que é!

Talvez seja isso: é possível que faltem desafios verdadeiros às aprendizagens propiciadas pela educação escolar...



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