sábado, 26 de janeiro de 2013

A rainha do botequim

Para D. Alice, minha mãe,
 que me ensina sobre o bem viver a cada dia.


Quando cheguei ao seu prédio, havia um recado na portaria, que lhe deixara o dono do bar mais próximo, na comercial. Ele queria saber o preço de seu livro de poesias, para vendê-lo, no bar. Havia, já, vários interessados, mas ele estava segurando o livro, no aguardo da confirmação do preço. Ela ficou aflita: “Tem gente que quer o livro, e ele está perdendo de vender!...”

No início da tarde, fui com ela ao bar, para resolver o caso. Há alguns dias, ela deixara, ali, alguns exemplares do último livro de poesias lançado, Do rascunho ao livro... do livro aos corações. Quando nos aproximamos, alguns boêmios, que se lançavam já às aventuras do sábado festivo, acenaram para ela, desde suas mesas, chamando-a pelo nome. Acolhida calorosa. Ela aproximou-se do balcão, onde bêbados e sóbrios lhe fizeram festa. E ela, com seus cabelos de prata, o gesto entre acanhado e faceiro, distribuindo, sorrisos, abraços, comentários, perguntando pelas famílias, contava que estava bem.

Conversou com o dono do bar, também com familiaridade e afeto. Combinaram o preço. Vários dos presentes já aguardavam a informação para comprar o livro. Demoramos a sair dali, até despedir-se de cada um, com um voto, um comentário, um afago. Ouvi várias observações que reiteravam a admiração de todos em relação a ela.

Fomos voltando, devagar. Ela confessou que não sabia o nome de todos. E sorriu: “Eles devem me conhecer por causa do livro...” Discordo. Eles conhecem o livro, por causa dela. Sem qualquer demérito aos seus escritos. Ao contrário.



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