Na madrugada, os gritos pedindo socorro ecoaram pela rua, entraram pelas casas, e atravessaram os sonos. A moça corria de uma calçada à outra. Parecia alucinada. Apelava por ajuda, queria testemunhas contra a ação da polícia, alegava nunca ter roubado, nem matado, nem feito qualquer coisa errada. Várias janelas abriram-se na vizinhança, algumas luzes se acenderam. Do vão, entre os prédios, eu podia avistá-la, um pedaço do seu carro parado no meio da rua, e os reflexos das luzes vermelhos de prováveis carros da polícia, estes já fora do meu campo de visão. Ouvi uma senhora telefonando para a emergência, e outra pessoa advertindo-a quanto ao fato de que já haveria três viaturas no local.
Na madrugada, a moça correu rua afora, pensei que fosse evadir-se do local. Voltou, em seguida, aos prantos. “Vocês vão levar meu carro?” Pegou a bolsa, no banco de trás. Avistei, então, um policial, em atitude paciente, gesto cuidadoso, que lhe pedia as chaves do veículo. Ela se encaminhou para trás de um dos edifícios. Não mais ouvi sua voz. Não voltei a vê-la. Pouco tempo depois, uma das viaturas seguiu, e um caminhão de guincho encostou. Não demorou, e o carro era levado dali, empoleirado na carroceria do caminhão.
Na madrugada, o silêncio retomou seu passeio pelas ruas. As luzes, nas residências, apagaram-se, umas após as outras. Passado o sobressalto, cada um tentou retomar o caminho do sono, e dos sonhos. Uns demoraram-se um pouco mais, outros um pouco menos.
Na manhã, a luz do sol, o vôo dos pássaros, o movimento e os barulhos da cidade tomaram o espaço, a rua, e as calçadas. Indiferentes aos possíveis ecos, que ainda pudessem reverberar, dos pedidos de socorro, ou dos sobressaltos.
Na manhã, a luz do sol, o vôo dos pássaros, o movimento e os barulhos da cidade tomaram o espaço, a rua, e as calçadas. Indiferentes aos possíveis ecos, que ainda pudessem reverberar, dos pedidos de socorro, ou dos sobressaltos.
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