A pequena, com quatro meses de vida, tentava se acomodar no colo da mãe, entre bordados, tecidos, gentes que não lhe eram familiares, e a temperatura pouco confortável da sala de aula. Estava inquieta, insatisfeita. Resmungava. Eu, que fotografava os objetos, as pessoas e seus movimentos, encontrei, na lente da câmera, seu rostinho contrariado. No mesmo instante ela também localizou a lente, e sorriu-lhe. Sustentou o olhar. Fiz o registro. Na sequência, dissimulei fotografar outras coisas, saí de seu campo de visão, retornando alguns minutos depois. Novamente, quando percebeu a lente apontada para ela, empinou-se no colo da mãe, olhou diretamente para a câmera, e sorriu. Fez pose para a foto. Mais que isso, estendeu o braço frágil, apontando os dedinhos em sua direção.
Alguém, muito pertinentemente, observou, entre risos: "Hoje em dia, quando uma criança nasce, antes mesmo de ter o cordão umbilical cortado, já é fotografada!"
De fato. Não faz muito, a fala constituia uma das primeiras instituições sociais a abrigar quem acaba de nascer, deflagrando o processo de instauração do sujeito sociocultural em formação. Século XXI adentro, as imagens ocupam esse lugar, registrando, traduzindo cada instante de seus quotidianos, conformando suas subjetividades. No ato de chegada ao mundo social, o contato com as imagens antecede o abrigo do colo materno, a voz que inaugura o nome, o leite do seio que acolhe e alimenta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário