Lá pela primeira metade da década de 1990, nós conhecemos um
lugarzinho delicioso, onde podíamos tomar café e conversar. Conversar entre
nós, com outras pessoas que estivessem por ali, e com o trio proprietário do
café: Ana, Claudia e Marcelo. Era o Café Savana, localizado no canto de um
bloco comercial da Asa Norte, em Brasília. Era pequenino, cabia apenas uma ou
duas mesas no espaço interno, com outras mesas na área externa.
A certa altura, as meninas decidiram fazer voo próprio. Cada uma vendeu a sua parte para o Marcelo. Ele comprou a sala ao lado, e ampliou o espaço do café. Mais tarde, agregou outra sala na lateral oposta, formando um L. O Café Savana ganhou a cara do Marcelo, no decurso de mais de duas décadas. Aos poucos, ele foi acrescentando atividades: lançamento de livros, exposições, e outros eventos culturais que reuniam, sobretudo, os frequentadores do espaço. Dentre esses, nós.
Quando as meninas saíram da sociedade, abriram outro espaço numa quadra também na Asa Norte. Era o Sebastian Café. Elas próprias estavam no comando de todas as etapas da produção do espaço, que oferecia inclusive café da manhã nos finais de semana. Era mais intimista, numa loja voltada para o interior da quadra. Assim, não ficava exposto à intensa movimentação comercial. No mesmo bloco onde se instalaram, havia uma loja de discos de vinil e CDs, onde, eventualmente, eu encomendava músicas importadas. Naqueles tempos ainda era um pouco complicado comprar coisas importadas. A dificuldade dava um certo charme ao processo. Cada CD que chegava era uma conquista.
Frequentávamos os dois lugares. Eventualmente, Ana e Cláudia iam ao Savana tomar um café. Ganhamos um adesivo do Sebastian, que colei na lateral da minha geladeira.
No comecinho da segunda metade da década de 1990, Ana e Cláudia fecharam o Sebastian, para atuar em outras frentes profissionais. Na verdade, passaram a trabalhar em campanhas para eleições, na área da publicidade. No Café Savana, Antony, que trabalhava com Marcelo, nos dava notícias delas, quando passava algum tempo sem que as pudéssemos ver. Mas o tempo tem seus rigores.
À medida que avança, vai desfazendo pequenas fibras de conexão. Antony saiu do Café Savana, para trabalhar numa universidade. Marcelo passou a nos falar delas, cada vez menos. E nós também não mais as vimos. Até porque, tendo mudado de cidade de residência, passamos também a frequentar menos o Savana.
Mesmo assim, toda vez que estávamos em Brasília, um dos lugares obrigatórios de estar era o Café. Para dar um abraço no Marcelo, para conversar com sua equipe, para comer um quiche, o melhor filé grelhado que eu já experimentei, ou uma salada de legumes. Tudo tão saboroso quanto estar ali, naquele lugar que exalava uma atmosfera de pluralidade, elegância, charme, bom humor.
No início deste ano, voltamos ao Savana. Estava fechado. Lembrei-me, então, que o Marcelo costumava dar um recesso coletivo no início do ano. Alguns dias depois, voltamos. Fomos informados que o Marcelo vendeu o ponto. No mercado, um café, uma loja, é apenas um ponto comercial, que se vende, que se passa à frente. E isso é tudo.
Alguns funcionários foram mantidos pelo novo proprietário. Estão preocupados. Ouviram a promessa de que cerca de 70% do cardápio será mantido. Isso para preservar a clientela acostumada ao lugar há mais de duas décadas. As mudanças devem ser promovidas aos poucos, como boas novidades, até que o novo proprietário coloque o lugar ao seu jeito.
Marcelo decidiu assumir o papel de professor, e foi atuar na área de Educação de Jovens e Adultos. Surpreendente. Não suspeitava desses desejos do Marcelo. Mas talvez esteja aí uma das explicações para as afinidades estabelecidas por tantos anos.
A propósito da referência aos tantos anos, o adesivo do Sebastian está ali, na lateral da minha geladeira que já marca mais de três décadas comigo (por quanto tempo ainda resfriará nossos alimentos e sucos?). Risão, de braços abertos, parece imerso entre anotações de telefones que também de tão antigos já não funcionam mais. Sebastian aviva percursos da vida que, de singelos que são, ancoram os sentidos mais fundos.
Que sejam bons os caminhos trilhados por Ana, Cláudia, Antony, Marcelo. E também pelo novo proprietário do Café.
Em tempo1: no dia quando soubemos da venda do Café Savana, encontramos o Capeta, andando de bicicleta pela cidade. Ele nos acenou e gritou: Está fechando tudo! Durante décadas, o Capeta integrou o grupo de proprietários do Café Martinica, fechado no início de 2019.
Em tempo2: A loja de discos de vinil e CDs importados, que era vizinha ao Sebastian, também fechou há um bom tempo. Também, já não fazia sentido, mesmo: agora, importamos tudo pela internet...
Em tempo3: quando somos mais jovens, temos muitos projetos a executar, a vida inteira para conquistar. Nosso olhar vislumbra o que há de vir. Envelhecer também é passar a ter cada vez mais histórias para contar. Do já vivido. Até chegarmos à etapa quando começamos a nos esquecer...
A certa altura, as meninas decidiram fazer voo próprio. Cada uma vendeu a sua parte para o Marcelo. Ele comprou a sala ao lado, e ampliou o espaço do café. Mais tarde, agregou outra sala na lateral oposta, formando um L. O Café Savana ganhou a cara do Marcelo, no decurso de mais de duas décadas. Aos poucos, ele foi acrescentando atividades: lançamento de livros, exposições, e outros eventos culturais que reuniam, sobretudo, os frequentadores do espaço. Dentre esses, nós.
Quando as meninas saíram da sociedade, abriram outro espaço numa quadra também na Asa Norte. Era o Sebastian Café. Elas próprias estavam no comando de todas as etapas da produção do espaço, que oferecia inclusive café da manhã nos finais de semana. Era mais intimista, numa loja voltada para o interior da quadra. Assim, não ficava exposto à intensa movimentação comercial. No mesmo bloco onde se instalaram, havia uma loja de discos de vinil e CDs, onde, eventualmente, eu encomendava músicas importadas. Naqueles tempos ainda era um pouco complicado comprar coisas importadas. A dificuldade dava um certo charme ao processo. Cada CD que chegava era uma conquista.
Frequentávamos os dois lugares. Eventualmente, Ana e Cláudia iam ao Savana tomar um café. Ganhamos um adesivo do Sebastian, que colei na lateral da minha geladeira.
No comecinho da segunda metade da década de 1990, Ana e Cláudia fecharam o Sebastian, para atuar em outras frentes profissionais. Na verdade, passaram a trabalhar em campanhas para eleições, na área da publicidade. No Café Savana, Antony, que trabalhava com Marcelo, nos dava notícias delas, quando passava algum tempo sem que as pudéssemos ver. Mas o tempo tem seus rigores.
À medida que avança, vai desfazendo pequenas fibras de conexão. Antony saiu do Café Savana, para trabalhar numa universidade. Marcelo passou a nos falar delas, cada vez menos. E nós também não mais as vimos. Até porque, tendo mudado de cidade de residência, passamos também a frequentar menos o Savana.
Mesmo assim, toda vez que estávamos em Brasília, um dos lugares obrigatórios de estar era o Café. Para dar um abraço no Marcelo, para conversar com sua equipe, para comer um quiche, o melhor filé grelhado que eu já experimentei, ou uma salada de legumes. Tudo tão saboroso quanto estar ali, naquele lugar que exalava uma atmosfera de pluralidade, elegância, charme, bom humor.
No início deste ano, voltamos ao Savana. Estava fechado. Lembrei-me, então, que o Marcelo costumava dar um recesso coletivo no início do ano. Alguns dias depois, voltamos. Fomos informados que o Marcelo vendeu o ponto. No mercado, um café, uma loja, é apenas um ponto comercial, que se vende, que se passa à frente. E isso é tudo.
Alguns funcionários foram mantidos pelo novo proprietário. Estão preocupados. Ouviram a promessa de que cerca de 70% do cardápio será mantido. Isso para preservar a clientela acostumada ao lugar há mais de duas décadas. As mudanças devem ser promovidas aos poucos, como boas novidades, até que o novo proprietário coloque o lugar ao seu jeito.
Marcelo decidiu assumir o papel de professor, e foi atuar na área de Educação de Jovens e Adultos. Surpreendente. Não suspeitava desses desejos do Marcelo. Mas talvez esteja aí uma das explicações para as afinidades estabelecidas por tantos anos.
A propósito da referência aos tantos anos, o adesivo do Sebastian está ali, na lateral da minha geladeira que já marca mais de três décadas comigo (por quanto tempo ainda resfriará nossos alimentos e sucos?). Risão, de braços abertos, parece imerso entre anotações de telefones que também de tão antigos já não funcionam mais. Sebastian aviva percursos da vida que, de singelos que são, ancoram os sentidos mais fundos.
Que sejam bons os caminhos trilhados por Ana, Cláudia, Antony, Marcelo. E também pelo novo proprietário do Café.
Em tempo1: no dia quando soubemos da venda do Café Savana, encontramos o Capeta, andando de bicicleta pela cidade. Ele nos acenou e gritou: Está fechando tudo! Durante décadas, o Capeta integrou o grupo de proprietários do Café Martinica, fechado no início de 2019.
Em tempo2: A loja de discos de vinil e CDs importados, que era vizinha ao Sebastian, também fechou há um bom tempo. Também, já não fazia sentido, mesmo: agora, importamos tudo pela internet...
Em tempo3: quando somos mais jovens, temos muitos projetos a executar, a vida inteira para conquistar. Nosso olhar vislumbra o que há de vir. Envelhecer também é passar a ter cada vez mais histórias para contar. Do já vivido. Até chegarmos à etapa quando começamos a nos esquecer...
Nenhum comentário:
Postar um comentário