Na rodoviária. Uma mulher magra, meio desorientada, empurra
uma mala muito grande, acompanhada de duas meninas pequenas e um menino
maiorzinho. Ele, provavelmente, com uns 9 anos. A menina do meio com uns 6 e a
pequena com não mais que 4. O menino tem uma postura de homem grande. É o
chefe. As meninas traquinam em torno da mãe, sob o olhar de reprovação dele. A mãe
pede que ele vá a algum lugar para fazer algo. Ele olha com impaciência. Ela tenta
exercer alguma autoridade sobre ele, ao que ele responde com uma postura
corporal de deboche. Caminha, displicente, na direção apontada por ela,
enquanto ela tenta organizar as meninas. Pouco tempo depois, ele retorna. Senta-se
na mesma cadeira onde já está sentada a menina do meio. Ele a empurra, e se
acomoda, ocupando mais espaço que ela, no assento. Ela se apoia na mala, ao
lado, e derruba uma pequena valise. Levanta-se para recoloca-la no lugar. O menino
desliza o corpo, ocupando todo o assento. Ao retornar, menina reclama, quer seu
lugar de volta. Ele olha duro para ela. Não recua. A mãe, sentada em outro
lugar, repreende a menina, ela deve deixar o irmão quieto. Chama para que se
sentem juntas, ela e as duas filhas. As meninas conversam entre si, brincam,
ambas sentadas no colo da mãe. Pela conversa, parece que estão de mudança. As meninas
perguntam como será a nova casa onde morarão. A mãe tenta explicar. Sua voz é
frágil. Parece querer chorar. Onde estaria o pai daquelas crianças? Senhor e
dono do banco, o menino abre os braços e as pernas. Observa à sua volta com
autoridade, como se dominasse o mundo. Tenta convencer a mãe de que o ônibus no
qual embarcarão mudou o horário. Informação errada, que a mãe corrige. Mas ele
não aceita. Diz que ela não sabe olhar direito, adverte para que ela preste
atenção. A mãe não faz caso. As meninas perguntam onde se sentarão no ônibus. Ela
explica que a pequena irá com ela, e a menina do meio e o menino sentarão no
mesmo banco. O menino olha duro para a mãe e afirma: eu não me sentarei com
ela. A mãe não responde. A menina se achega a ele, dizendo que irão juntos,
sim. Ela ri. Ele lambe o próprio dedo e passa no rosto dela. Ela reclama,
novamente, volta para o colo da mãe. O menino continua com ares de machinho
alfa. Quando o ônibus chega, é ele quem leva a mala para despachar, enquanto a
mãe organiza as meninas. A mãe está confusa. Não sabe ao certo como proceder. Ele
observa as irmãs e a mãe com impaciência e superioridade.
E eu? Observo a tudo, com vontade de dar umas chineladas no
menino. Não sem antes dar uma boa sacudida na mãe. Embarco no mesmo ônibus. Mas
nos sentamos distantes. Para meu alento.
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