terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Para que serve uma tese de doutorado?


Nos últimos anos, marcadamente desde o início dos anos 2000, mais precisamente a partir de 2002, aumentou em razão geométrica o número de doutores no Brasil. A política de expansão das universidades públicas e dos programas de pós-graduação possibilitou que um grande número de jovens, antes excluídos tanto do ensino superior e, sobretudo, dos cursos de pós-graduação, pudessem sonhar e realizar seus projetos de alcançarem os títulos de mestres e doutores.

Por sua vez, o Sistema Nacional de Pós-Graduação também passou por mudanças profundas, no sentido de desenvolver programas e plataformas cada vez mais complexas de controle e avaliação.

Nos bancos de teses e dissertações, multiplicam-se trabalhos aprovados em bancas e disponibilizados ao público, como parte da prestação de contas que se deva à sociedade: socializar o conhecimento produzido.

De tudo quanto seja produzido em nome das exigências de produtividade, ao fim e ao cabo, muito pouco é lido: artigos, capítulos de livros, teses, dissertações... Mas estas últimas, as teses e dissertações, não só são lidas como examinadas por bancas idôneas, que verificam a consistência do conhecimento produzido, que solicitam revisões antes da aprovação. Supõe-se que uma tese, quando aprovada, traga resultados legitimados, comprovados, de pesquisas desenvolvidas de acordo com os diferentes protocolos das diferentes áreas de conhecimento.

É claro: há sempre falhas no processo. Eventualmente, algum membro de banca não chegou a examinar o material com o devido cuidado. Muitas vezes fez uma leitura aligeirada, tendo decidido, previamente, aprovar o candidato a doutor. Noutras, prevalecem na avaliação questões de vaidade, mais que epistemológicas ou conceituais. Na academia, a fogueira das vaidades arde sem cessar...

O que dizer quando um doutorando, depois de ter defendido uma posição, em sua tese, obtendo aprovação em sua argumentação, em sua atividade pública assume posição antagônica à defendida? Quando a ação contraria o preceito, na atuação da mesma pessoa em questão?

Nesses casos, cabe a pergunta: para que serve uma tese de doutorado? Tão somente para alçar o candidato ao título? Eu, que recorrentemente me debruço sobre teses e dissertações de quantos candidatos, lendo com o respeito que cada um deles merece, mas também com o rigor que a produção de conhecimento requer, sinto-me desnorteada diante dessa questão.

Está posto: o Ministro da Justiça defendeu um ponto de vista em sua tese de doutorado. A banca o aprovou. O título de doutor legitima suas ações: é um conhecedor do assunto. Mas suas ações são conduzidas na contramão do que defendeu. Sobretudo quando o ponto da pauta é seu interesse próprio: tornar-se ministro no STF.

E eu aqui, me perguntando: para que serve uma tese de doutorado?


Tese: Jurisdição constitucional e tribunais constitucionais - garantia suprema da Constituição
Autor: Dr. Alexandre de Moraes 

Defendida em 2000, no Programa de Pós-Graduação em Direito - USP
Orientador: Dr. Dalmo de Abreu Dallari 






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