Na lateral do prédio, as caixas destinadas a aparelhos de ar
condicionado que não foram usadas ganharam nova função: ninho para um casal de
pombos criar seus filhotes.
Todos os dias, o trabalho da família é interminável: trazer
alimento aos filhotes, abriga-los das intempéries.
Os filhotes crescem rapidamente, e logo já têm estatura
próxima à dos pais. É quando começam a sacudir as asas, no ensaio do voo.
Num desses ensaios, o acidente doméstico: um dos filhotes caiu do ninho, entre os
carros da garagem, no piso térreo do prédio. A mãe, entre aflita e ativa, impossibilitada de alçá-lo de volta ao ninho, trata de vigiá-lo,
alimentá-lo, estimulá-lo a tentar voar. Ainda sem sucesso. Vigia a cria nesse
novo e perigoso território de seu não-pertencimento.
O filhote, meio assustado, mas gradativamente ambientado,
tem dormido em cantos ocultos ao movimento dos carros e das pessoas.
Não voltará ao ninho original. Ninguém voltará.
Não sabe o que lhe reserva o futuro. Ninguém sabe.
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