Fui assistir ao filme Interestelar.
Entre as temáticas abordadas no enredo, estão questões éticas da pesquisa tecnocientífica.
Além dos dilemas marcados entre decisões que envolvem escolhas entre os
vínculos afetivos mais próximos e o destino da humanidade, estão as situações
em que, cada qual movido por razões singulares, cientistas mentem, ou forjam
dados, para assegurar a realização de seus projetos. É particularmente sobre
este ponto que pretendo me deter.
Curiosamente, no mesmo dia, chegou-me às mãos uma resenha crítica
do livro intitulado Pensadores da nova
esquerda (cuja aquisição já providenciei), escrito por Roger Scruton nos
anos 80 do século XX, mas só traduzido para o português em 2014. Nele, o
filósofo inglês faz uma análise crítica da obra de um conjunto de quatorze
intelectuais importantes no cenário do século XX, que aprofundaram as
discussões marxistas, conhecidos como Nova Esquerda. Alguns deles ainda mantêm vigor
em suas ideias, influenciando a produção de conhecimento século XXI adentro. Dentre
esses, estão Foucault, Gramsci, Althusser, Habermas, Lukács, Galbraith. Nessa
lista, também está Jean-Paul Sartre, protagonista de um episódio que me motiva
a esta reflexão.
Scruton é duro em suas análises, advertindo para o fato de
que a maior parte da produção reflexiva nessa direção é prenhe de bandeiras
ideológicas, pouco restando de conhecimento crítico reflexivo propriamente
dito. Vai mais longe, apontando situações nas quais os intelectuais e pensadores
não hesitaram em forjar dados, ou mentir sobre o que teriam testemunhado, para
confirmar suas convicções e defender seus projetos. Particularmente, os
projetos vinculados às revoluções de esquerda.
Esse teria sido o caso de Jean-Paul Sarte que, mesmo tendo
testemunhado atrocidades imperdoáveis na União Soviética, quando lá esteve em
1954, mentiu sobre elas, omitindo esse testemunho, em favor do projeto marxista
de sociedade, de uma utopia não realizada. Ou seja, a construção de uma sociedade socialista, que se
pretendia mais justa, valia o preço de uma montanha de cadáveres. E também justificava
a falsificação dos fatos. Sartre teria admitido esse episódio já perto de sua
morte, sem, contudo, trazê-lo à mesma visibilidade com que o fez em relação à
defesa messiânica do projeto de esquerda, ancorado na experiência soviética.
No filme Interestelar, Dr. Mann é um cientista enviado em
viagem através de um buraco de minhoca, para explorar um planeta que,
aparentemente, poderia oferecer condições de abrigar a espécie humana, quando
parecia inevitável a falência da vida no planeta Terra. O cientista teria
registrado dados que confirmavam essa
possibilidade no planeta onde fazia as investigações. Isso justificou a decisão de se fazer uma nova viagem até o
planeta, para resgatar o Dr. Mann, e fazer o reconhecimento do local. Assim,
seria possível verificar o que seria necessário para colonizar o local. No entanto, os dados tinham sido forjados pelo cientista, num gesto de
desespero ante a constatação de que, sendo inóspito o local, ele estaria
condenado a morrer ali, sozinho. Mentir foi a única saída que ele
encontrou para ser resgatado, não importando se esse resgate custaria a
descoberta de alguma saída para a sobrevivência da espécie humana. Ou seja, poderia custar a morte da humanidade.
No filme, a série de atitudes tomadas pelo cientista, em
favor da própria sobrevivência e em detrimento do coletivo, ou da humanidade, foi
castigada com sua morte. Não poderia ser diferente, considerando-se a moral que
prevalece às narrativas hollywoodianas,
sobretudo, as superproduções que evocam o imaginário de nação, a nação que
encarna o próprio sentido de humanidade.
O cientista, na ficção científica, foi condenado à pena de
morte, porque mentiu para ser resgatado e continuar vivo. O filósofo
existencialista do século XX mentiu em defesa de um projeto de sociedade ainda em
construção, que já tinha devorado e ceifado vidas sem fim, num campo de
atrocidades nem sempre admitidas. O filósofo não sofreu nenhuma penalidade. Ao contrário, permanece sendo evocado por bandeiras que
defendem uma sociedade mais livre e justa.
Parece, mesmo, que nossas noções de ética na pesquisa e na
ciência precisam ganhar maturidade. Pois, até aqui, amiúde, o que entendemos por ética se
aproxima muito mais a argumentos justificatórios para a realização dos desejos
mais infantis e egoístas.
INTERESTELAR. Interstellar. Direção: Christopher Nolan. Duração:
169 min. EUA, 2014.
SCRUTON, Roger. Pensadores
da nova esquerda. São Paulo: Editora É Realizações, 2014.
Gosto das histórias que contam os filmes porque são muito interessantes, podemos encontrar de diferentes gêneros. De forma interessante, o criador optou por inserir uma cena de abertura com personagens novos, o que acaba sendo um choque para o espectador, que esperava reencontrar de cara as queridas crianças. Desde que vi o elenco de Interestelar imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos, Pessoalmente eu irei ver por causo do ator Matthew McConaughey, um ator muito comprometido (pode Ver Filme de Ação é uma ótima opção para entreter), além disso, acho que ele é muito bonito e de bom estilo.
ResponderExcluirEu acho que é uma a melhores filmes que eu já vi. Achei muito interessante a maneira em que terminou o filme. Desde que vi o elenco deste filme, imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos, pessoalmente eu irei ver por causo do ator Matthew McConaughey, a propósito, eu o recomendo na A Torre Negra, vi que a transmitiria aqui: https://br.hbomax.tv/movie/TTL608754/A-Torre-Negra, é uma historia que vale a pena ver. Para uma tarde de lazer é uma boa opção.
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