Foi Sebastián Suárez quem me apresentou os tunicados,
curiosos animais marinhos a respeito dos quais nunca ouvira falar, antes. Fazem parte de uma espécie que integra o grupo dos Urocordados, um
subfilo de animais pertencentes ao filo Chordata.
Ao que afirmam os cientistas, essas criaturas, do ponto
de vista filogenético, podem estar mais próximas da espécie humana do que se
suponha. No entanto, concordo com Sebastián que, além de aproximações
filogenéticas, eles também se parecem com os humanos em certa idiossincrasia
comportamental sociopolítica, por assim dizer. Ao menos, com um dado segmento
social da espécie humana.
Os tunicados, quando nascem, são flutuantes na água
marinha, têm o formato de um bastão, e portam um pequeno cérebro que os ajudam
a eleger o melhor lugar, numa rocha, para se fixarem. Uma vez fixados, devoram
o próprio cérebro, pois já não terá mais serventia. A partir de então, passam a
filtrar a água em volta, alimentando-se de todos os resíduos de que seja
portadora. E permanecem, ali, fixos, na rocha.
Há quem aponte – por mais paradoxal que possa parecer – certa inteligência na estratégia desse animal, ao devorar o próprio cérebro quando este já não tenha mais
serventia, sendo ele um órgão energeticamente dispendioso.
No entanto, esse caso
também pode ser pensado, metaforicamente – uma metáfora humana, não podendo ser
de outra forma –, por outra via. Nessa metáfora, Sebastián sugere, e eu estou
em pleno acordo, que sejam evocados os percursos cumpridos pela maior parte dos
políticos. Quando aspirantes aos cargos públicos, mas ainda não integrados à classe
política propriamente dita, fazem uso de seu pequeno cérebro – pequeno no tamanho mas não necessariamente na astúcia. Assim, agilmente se orientam
quanto a como chegar ao melhor ponto para se fixarem. Esse cérebro os ajuda na
articulação de discursos, na argumentação de posições, na defesa veemente de
certas lutas. Quando eleitos, fixam-se na rocha do poder legislativo, ou do
poder executivo, naqueles cargos ocupados a partir de processos eletivos. Pronto: fixados, já não precisam do
cérebro. Por isso, os devoram. E permanecem, ali, alimentando-se do caldo nutritivo no
qual estão imersos.
Ali, de tempos em tempos, renovam a túnica que reveste seus
corpos – por isso, tunicados. Sua aparência externa torna-se cada vez mais próxima à
da rocha na qual estão fixados, embora internamente sejam vermelhos como
sangue...
Em anos de eleição, não faltam tunicados novos,
movendo-se com habilidade, em busca de coordenadas sobre onde se possam fixar, e defendendo seu direito a fixarem-se. Buscam abrir espaço entre os
tunicados mais velhos, fixados em territórios de onde não se dispõem a arredar pé.
Assim é...
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