terça-feira, 16 de outubro de 2012

Questões sobre ser e pertencer




Quando afirmo: “cortei minha mão”, algumas perguntas me assaltam: se a mão é minha, e não sou eu, quem é essa entidade à qual a mão pertence? Mais que isso, quem é essa outra entidade que provoca o corte na mão que, não sendo eu, pertence a outrem? De que lugar do corpo, ou melhor, de que lugar, que voz pronuncia a relação de posse com o corpo? Meu pé, minha perna, minha voz, meus olhos, meu coração...

Se tenho transplantado o pé, não deixo de ser eu, e o novo pé passa a integrar a lista de pertencimentos dessa entidade que continua a pronunciar: meu pé. Pergunto, então, qual o limite de transplantes é possível de se realizar para que essa entidade se reconheça como eu? Posso transplantar os pés, as pernas, os braços, os rins, o útero, o fígado, o coração, os ossos, a pele... Quanto da pele? Em que partes do corpo? Poderia ter o rosto transplantado, e o reconheceria como meu? Ou como eu?

De onde é pronunciado esse pertencimento? Do cérebro? Provavelmente não, pois também a ele me refiro como sendo meu: meu cérebro se confunde, e não consegue responder essa questão. Meu, de quem? Que metafísica é essa que descola o corpo daquilo que sou, colocando-o no lugar daquilo que me pertence?



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