quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Memória de um gole de cerveja



Certas impressões sensoriais deixaram marcas tão fundas nos sentidos, que muito tempo depois, por vezes, inesperadamente, sou tomada de assalto pela impressão deixada por alguma lufada de vento, uma sonoridade, o gole de alguma bebida, fixada nalgum momento perdido entre tantos que podem ser revisitados no amplo e concorrido labirinto da memória.

No final dos anos 70, eu era estudante secundarista. Minha turma, do Curso Técnico em Eletrônica, era formada majoritariamente por rapazes, numa proporção de, aproximadamente, seis meninos para cada menina. Naquele final de semana, eu participava de uma gincana, numa equipe que havíamos batizado de Samuca. Era uma referência carinhosa ao Samuel, membro da equipe, colega de classe, jogador de vôlei – chegou a integrar a seleção de Brasília durante algum tempo.

Durante todo o sábado, a equipe se desdobrou em várias, para cumprir todas as tarefas da melhor forma possível, e assim obter a pontuação máxima. Ao final do dia, estávamos exaustos, suados, em desalinho. Mas não muito, pois ainda encontramos energia para comemorar aos pulos a conquista do primeiro lugar. No início da noite, seguimos para uma pizzaria, onde mataríamos a sede e a fome, comentando os vários momentos do dia, as dificuldades e correrias pelas quais teríamos passado. E riríamos com a felicidade solta dos que conquistaram a vitória.

Acompanhando a maioria, pedi uma cerveja, enquanto esperávamos as duas pizzas gigantes que seriam servidas ao palitinho. Quando bebi o primeiro gole, senti seu frescor ligeiramente amargo e borbulhante. Fui sorvendo o líquido devagar, até a metade da taça. Aquela não foi minha primeira cerveja. Tampouco seria a última. No entanto, por certo não voltei a experimentar o mesmo prazer tomando dessa bebida, em qualquer outro momento depois dali.

Hoje, dia quente e seco de Primavera, busquei um pouco de água mineral gaseificada. Quando senti seu gosto, borbulhante e fresca, lembrei o gole daquela cerveja, há mais de três décadas atrás.

Um viva ao frescor! Ao frescor da idade, da cerveja, da água com gás!



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