Para J. Bamberg
Havia uma espécie de descompasso entre sua percepção da
passagem das horas, dos dias, e o tempo marcado nos relógios, nos
calendários...Talvez por isso mesmo, ele se cercava de aparatos que marcavam a
passagem do tempo: ponteiros analógicos com suas setas agudas apontando
segundos e minutos, luzes digitais pulsando horas, tabelas numéricas cartesianas
entrecruzando informações sobre dia da semana e do mês. E lembretes anotados
manualmente, fixados na geladeira, sobre a mesa, em bloquetes, papéis soltos,
desgarrados ao tempo-vento... Tudo em vão: o relógio sempre marcava uma hora
que ou era muito mais cedo ou muito mais tarde do que ele imaginava. E na
folhinha, ele nunca sabia ao certo o dia do mês ou da semana.
Acontece que ele se ressentia de uma acentuada
sensibilidade para o emaranhado entrecruzamento de muitas linhas de tempo, suas
tensões, suas dores, suas expectativas, suas memórias. Suas histórias humanas, demasiadamente humanas... As linhas, tantas, e nem
um pouco retas, diluíam-se umas nas outras, confundiam-se e à sua própria
percepção. Talvez cada relógio pudesse ser escalado para marcar um desses
tempos. Mas relógios não sabem marcar outra coisa que não o tempo esquadrinhado
para organizar dias em 24 horas, horas em 60 minutos, minutos em 60 segundos. Esse
esquadrinhamento não acolhe emaranhados temporais de tantas existências,
desejos, desenhos, sonhos, dores... dores noite a dentro, reivindicando da
consciência que se mantenha desperta, que não repouse, que não se entregue.
Afinal, parece mesmo é que todos os relógios e
calendários contam, gota a gota, dias marcados por dores. Dias que se prolongam
em noites insones, em horas cuja extensão não é medida em minutos, mas em
esperas. E ele se perde dessa contagem, sonhando com tempos outros, quando também
não dormia, atravessando as noites em coreografias dançadas, em bailes gososos
banhados a músicas cujo compasso acompanhava os batimentos do seu coração.
Para você,a minha cabeleira e o meu descompassado coração, que marca um'outra canção em seu entrecho:'...sou o fakir da dor...Fakir da dor...Da dor...Dor...'... Mas, ao mesmo tempo sobreposto,sou um vaqueiro dançador de chulas-de-arrasto e quando 'ela' chega,monto-lhe no lombo e lhe encravo as minhas esporas-4-potosí,até ela sangrar e corcovear ou se renegar da hora que 'me escolheu p'ra Cristo' das suas síndromes!...Vô-te!... Também sou Capoeira. Dou um rolê e pego-lhe a perna de apoio com uma rasteira ou uma banda-traçada.Ela 'se arréga',se estatela e some até a próxima entrada da 'lua-crescente-p'ra cheia'... aí,a dança-louka e a Roda do Tempo contam outra série de momentos bem diferenciados,pois,hora gôzo e proveito,ou por outra,expectativas, na mais possível transição: serei gente, ou ainda bicho-brábo ?!... Meu corpo é uma arena de lutas das sensibilidades improváveis,e o tik-tak dos relógios dão um rítmo p'ra ser quebrado,ou uma intensidade a ser alcançada.Essa,um'hora de dor.Mas, amanhã,tomara seja toda alegrias...Tenho Fé! O mais difícil é ser sensível às sincronicidades,e ter um par para dançar a mais perfeita metáfora a essa dor que ...Ah,a lua está em minguante,noite escura e cheia de estrêlas...Ôba!...Gôzo!... Gratíssimo!Quanta honra!... 1x,JB
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