sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Uma violência aos pés de jacarandá mimoso

 











Desde criança, aprendi: qualquer poda em plantas, de qualquer porte, só pode ser feita durante os meses que não têm a letra 'r' no nome. Ou seja, entre maio e agosto. Curiosamente, esse período envolve uma parte do outono até meados do inverno. Nesse período, as plantas, em sua maioria, estão se preparando para iniciar novo ciclo de floração, frutos, bem como para se vestir de nova folhagem. 

Como dizia minha mãe, a seiva está recolhida, fortalecendo-se para eclodir em esplendor de cores e vida. Quando essa eclosão começa a acontecer, com nova brotação de folhas e flores, já não se deve mais podar, sob pena de retirar da árvore sua força vital. 

Era já final de setembro. A alameda tem duas linhas de jacarandás mimosos: uma ao centro, outra à direita de quem sobe. Estavam muito verdes e cobertos de flores roxas. Quando enveredei por ali, no final da manhã, me deparei com a via de subida impedida: trabalhadores haviam cortado muitos galhos de todos os pés de jacarandá, deixando apenas os mais altos. A rua estava coberta de galhos grossos e finos, e muitas folhas. O cheiro da madeira cortada espalhava-se pelo ar. 

Não se tratou de uma poda, mas de uma violência. Passaram-se dias até retirarem toda a madeira cortada, todas as folhas do chão. O perfume permaneceu por muito tempo. Se chegava até as minhas narinas com algum prazer, pela delicadeza de sua textura, também me informava sobre dor, sobre perda, do ponto de vista das árvores.





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