terça-feira, 12 de maio de 2020

De pitahayas, mimos e afetos (para o Bruno, meu sempre querido Bruno)



Tempos estranhos, estes. Lembro-me de ter ido à universidade numa quinta-feira. Dei aulas a manhã toda, almocei, e à tarde encontrei com alguns orientandos, resolvi questões administrativas de rotina, preenchi relatórios. Acabei desmarcando um encontro agendado para a sexta-feira. Havia outro agendado para a segunda-feira seguinte, mas confirmaríamos durante o final da semana. Voltei para casa no final da tarde. E não retornei mais à universidade, há mais de 70 dias, mês de maio adentro. 

Tampouco saí da universidade: docentes, estudantes, técnicos e gestores, todos continuamos a trabalhar, desde nossas casas, pelas vias digitais. E já vamos ficando exaustos nesse exercício de compressão de todas as nossas atividades acadêmicas nas janelas dos aparatos tecnológicos das redes digitais de comunicação...

Saudades de encontrar as pessoas queridas pelos corredores, dos debates em sala de aula, dos abraços fraternos... Ah, os abraços!

Dia desses recebi uma mensagem por uma das redes digitais de relacionamento social: tem uma coisa para você na portaria do seu prédio. Seu Walmir, o porteiro, confirmou: um rapaz deixou uma coisa aqui para a senhora.

Coloquei a roupa e o calçado destinados para as breves saídas (cada vez mais raras), deixei o álcool próximo à porta para a desinfecção no retorno, coloquei a máscara de algodão duplo, e desci. Numa sacola, uma pitahaya rosa, enorme. Sorri. Pitahaya é a outra palavra com que, agora, posso nominar o gesto do abraço. Abraço grande, adocicado, que aquece o coração.

Demorei para decidir saboreá-la. Queria que a pitahaya permanecesse ali, no tempo. Afeto que fica.

Para quem ainda não experimentou seu sabor: pitahaya, ou pitaya, ou ainda pitaia, velha conhecida da cultura asteca, é o fruto de algumas espécies de cactos nativos da América Latina. A palavra pitahaya significa “fruta escamosa”, e pertence à língua taína, da família linguística macroarahuacana, que se estende desde a América do Sul, até o Caribe. Sua flor, branca e intensamente perfumada, abre-se apenas durante a noite. Por isso é chamada de rainha da noite.





Nenhum comentário:

Postar um comentário