Tempos estranhos, estes. Lembro-me de ter ido à universidade
numa quinta-feira. Dei aulas a manhã toda, almocei, e à tarde encontrei com alguns orientandos,
resolvi questões administrativas de rotina, preenchi relatórios. Acabei desmarcando um encontro
agendado para a sexta-feira. Havia outro agendado para a segunda-feira seguinte,
mas confirmaríamos durante o final da semana. Voltei para casa no final da tarde. E não retornei mais à
universidade, há mais de 70 dias, mês de maio adentro.
Tampouco saí da universidade: docentes, estudantes, técnicos e gestores, todos continuamos a
trabalhar, desde nossas casas, pelas vias digitais. E já vamos ficando exaustos
nesse exercício de compressão de todas as nossas atividades acadêmicas nas
janelas dos aparatos tecnológicos das redes digitais de comunicação...
Saudades de encontrar as pessoas queridas pelos corredores,
dos debates em sala de aula, dos abraços fraternos... Ah, os abraços!
Dia desses recebi uma mensagem por uma das redes digitais de
relacionamento social: tem uma coisa para você na portaria do seu prédio. Seu Walmir, o porteiro, confirmou: um rapaz deixou uma coisa aqui para a senhora.
Coloquei a roupa e o calçado destinados para as breves saídas (cada
vez mais raras), deixei o álcool próximo à porta para a desinfecção no retorno, coloquei a máscara de algodão
duplo, e desci. Numa sacola, uma pitahaya rosa, enorme. Sorri. Pitahaya é a
outra palavra com que, agora, posso nominar o gesto do abraço. Abraço grande, adocicado, que
aquece o coração.
Demorei para decidir saboreá-la. Queria que a pitahaya permanecesse
ali, no tempo. Afeto que fica.
Para quem ainda não experimentou seu sabor: pitahaya, ou pitaya, ou
ainda pitaia, velha conhecida da cultura asteca, é o fruto de algumas espécies
de cactos nativos da América Latina. A palavra pitahaya significa “fruta
escamosa”, e pertence à língua taína, da família linguística macroarahuacana,
que se estende desde a América do Sul, até o Caribe. Sua flor, branca e intensamente
perfumada, abre-se apenas durante a noite. Por isso é chamada de rainha da
noite.
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