O acesso à garagem de baixo, no subsolo, é muito ruim. O aclive
faz uma curva, de modo que, num certo ponto, uma das rodas do veículo perde o contato com
o chão. Eu já vi alguns motoristas deixarem o motor morrer na subida. Quase sempre
em pânico, veem o carro descer, rumo à muretinha logo atrás, em baixo.
Algumas vezes entrei e saí da garagem. Mas, depois de algum
tempo, passei a sentir medo de fazer a manobra. E depois senti-me travada para
realizar a operação. Ante tantas pressões de toda natureza, achei por bem não
insistir em mais uma coisa que me deixava insegura, e passei a evitar a
situação de ter de tirar o carro daquela vaga, mantendo-o sempre na garagem
térrea, muito mais tranquila para entrar e sair.
Mas ocorreu que, num certo dia, o carro precisou ficar lá em
baixo. E depois eu me encontrei sozinha em casa. Então por alguns dias me
desloquei de carona, táxi, a pé, evitando ter de encarar a tal manobra.
Naquela manhã, desci para ligar o carro, antes que a bateria
descarregasse. Enquanto ele funcionava, eu observei calma e longamente a rampa muito
inclinada de saída da garagem, a curva íngreme que termina no portão acionado
por controle remoto. Observei também todos os outros carros estacionados ali:
caminhonetes, carros de grande e médio porte, mais antigos, bem novos.
Quando o motor do meu carro já estava quente, olhei-me pelo
espelho retrovisor. Olhei bem fundo nos meus olhos, e perguntei: Afinal, você é
uma mulher, ou uma barata? Fiz uma pausa, esperando pela resposta. Uma barata,
respondi. E foi assim que, naquela manhã, eu conduzi o carro subindo aquela
rampa, sem titubear. Baratas não hesitam.
A rampa íngreme pareceu uma via ampla bem pavimentada, por onde se desloca sem sustos.
Não voltarei a ficar refém desse medo!
A rampa íngreme pareceu uma via ampla bem pavimentada, por onde se desloca sem sustos.
Não voltarei a ficar refém desse medo!
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