Não estou certa se primeiro se foram os pirilampos ou as
guaviras. O fato é que seus ciclos e presença entrelaçavam-se com as nossas
próprias vidas. Estavam ali, conosco, como tudo o mais que tomava parte daquele
pequeno mundo. Em novembro, o gosto doce das frutinhas redondas e esverdeadas
era tão certo quanto as luzinhas piscando-piscando dos pirilampos à frente da
casa, no cair da tarde.
Um dia começaram a chegar os tratores às fazendas vizinhas. Ajudariam
a ampliar a produção na lavoura. Melhorariam o pasto para o gado. Aos poucos, a
vegetação dos campos foi sendo modificada. Quando nos demos conta, já não havia
pirilampos. Tampouco guaviras. Hoje nem eu posso pisar aquele chão vermelho-tinta.
Mas essa é já outra história.
Quando vim de lá, um dos assuntos recorrentes durante a
primavera, na capital federal, eram as cigarras. Amadas por uns, odiada por
outros, compunham, obrigatoriamente, a trilha sonora dos meses de setembro,
outubro, novembro. Umas com trinados mais agudos, outras graves e compassadas. Algumas
cantavam noite adentro, outras na madrugada, e todas em pleno calor do dia.
Um dia, apareceram os pássaros pretos. Andavam rente ao
chão, à espreita, prontos para saborear cabeças de cigarras desavisadas. Começaram
a ser vistos corpos decapitados dos insetos cantantes. Os pássaros aprenderam
rapidamente a esperar que elas emergissem da terra e passaram a devorá-las
antes mesmo de deixarem suas cascas nos troncos das árvores.
Em 2017, outubro adentro, ainda não ouvi um trinado sequer de
cigarra.
Buscando informações, descobri que um número enorme de
insetos está na lista da fauna em risco de extinção: borboletas, abelhas,
grilos, gafanhotos, pirilampos... e as cigarras... Efeitos do avanço das
cidades, e da agricultura intensiva. Uma tragédia ambiental da qual não temos
ainda noção das dimensões.
E eu pergunto: quem chamará as chuvas?
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