Quando criança, não tive convívio com água abundante, fosse de rio, açude, lago, piscina... A água, bem precioso, era usada com parcimônia, tirada manualmente aos baldes, do poço fundo, aliado inevitável, sempre potencialmente perigoso. Crianças precisavam guardar todo cuidado em suas proximidades.
Por isso, a imersão do corpo na água foi experiência que só veio mais tarde, já na adolescência. A primeira vez que me entreguei à água, e me descobri boiando, foi também a primeira de outros feitos: a primeira viagem para longe de casa; a primeira vez que vi o mar... o mar, que me aninhou, e me ensinou a boiar...
Pouco depois, aprendi a nadar, coisa que nunca mais deixei de fazer, mesmo com algumas interrupções - umas involuntárias, outras sem muitas explicações. Essas interrupções não me fizeram nada bem... e, toda vez que retorno, é como se reencontrasse um veio de ar fresco, de viço, de alegria.
Nadar, para mim, desde o início, tem o mesmo sentido de meditar, retomar o próprio eixo, aprumar.
Mas devo advertir os mais entusiasmados: não, não sou nadadora. Qualquer um é mais rápido que eu na piscina, das crianças menores aos mais velhos. Qualquer um domina melhor a técnica do nado, em qualquer estilo, incluindo o nado cachorrinho.
Está bem, eu até nado os quatro estilos oficiais, e não sou muito dada ao nado cachorrinho. Tenho até umas chatices, do tipo respirar bilateralmente e evitar ficar parada nas bordas da piscina. Mas vou devagar. Todos passam à minha frente. Eu sigo, como quem caminha, como quem segue em frente, decifrando seu caminhar, e a vida. Só que vou fazendo um caminho pela água, que o apaga, dissolve, mistura, depura.
Porque a água tudo lava, tudo leva, e a tudo nutre.
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