quinta-feira, 23 de abril de 2015

Um pneu, um socorro e um gato no portal


Dei aulas o dia todo, das 8 às quase 18 horas. De volta para casa, trânsito intenso, o pneu do carro furou. Estacionei ao lado de um sobradinho, numa rua movimentada, meio escura. Respirei fundo. Ai, ai... Pedi, à seguradora, suporte técnico para trocar o pneu. Não, nenhum desejo de provar minha autonomia feminina. Não trocando pneu de carro no início da noite... Posso fazê-lo de outras formas. Ali, o único desejo era o de chegar logo em casa, e em segurança. Pelo telefone, fui informada que, no máximo, em 30 minutos o auxílio chegaria. Fiquei dentro do carro, portas fechadas, pisca alerta ligado. Notei que não havia pedestres transitando na rua. Nem um para dar notícias dos outros. No sobradinho, diante do qual estacionei, um cachorro latia nervosamente, e os proprietários me observavam, meio ocultos por trás da janela. Alguns minutos depois, apareceu um gato, que se postou, sentado, na calçada. Olhava sabe-se lá o que, concentrado. Em 15 minutos o técnico chegou em meu auxílio, a bordo de uma moto. Quando ele já estava no domínio da situação, fazendo a troca dos pneus, avistei novamente o gato, deitado na rua, rolando e roçando a cabeça no asfalto, ao lado do meu carro, bem na linha do fluxo do trânsito. Aquela era uma espécie de demonstração de domínio territorial. Mas era também um perigo iminente. Pisei firme no chão e o adverti Sai daí, rapaz, não tá vendo o perigo? Venha p'rá cá! Ele me olhou, resmungou, e veio se roçar no pneu do carro, me olhando e dando breves miados. Logo voltou para a rua. Logo eu fui lá, empurrá-lo de volta. Afinal, ele veio para baixo do carro, sempre me olhando, e se insinuando. Ri da figura. Em alguma medida, senti-me protegida. Sabe-se lá porque. O rapaz foi ágil no socorro. Liguei o motor do carro, o gato voltou para a calçada, o rapaz ficou, na moto, aguardando que eu saísse. Findara o tempo. O portal fechou-se. Tudo retomou o fluxo nervoso e veloz dos dias e das noites.




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