domingo, 5 de abril de 2015

Um filme ciberfunk documental cientificoficcional…


Fui assistir ao filme Branco sai, preto fica, realizado em 2014, com assinatura de Adirley Queirós, uma produção brasiliense, que contou com financiamento do FAC/DF e ganhou o prêmio de melhor filme no 47º. Festival de Cinema de Brasília. Estava na expectativa de ver o trabalho. Quando solicitei o ingresso, a moça me olhou séria e fez a advertência: É um filme sobre música funk da Ceilândia. É isso mesmo? Confesso que fui pega de surpresa. Apenas respondi que Sim, é isso mesmo. Depois que saí dali, fiquei pensando na situação discriminatória que isso representou. O que a atendente teria pensado que justificou aquela advertência? Eu, uma mulher branca, de meia idade, que interesse teria naquele tipo de filme? Teria, ela, feito a mesma advertência aos demais clientes (pois a sala estava com mais da metade das cadeiras ocupadas)?

Branco sai, preto fica é um filme com a cara de Brasília, ou, do Distrito Federal, sua periferia. É um filme que brada aos quatro ventos que a capital federal não se restringe à Esplanada dos Ministérios, e suas gentes transitam por outros trechos do mapa. De alguma forma, o filme brada contra a mentalidade manifestada pela moça que me vendeu o ingresso, à entrada do cinema...

As tomadas são fortes, intensas. Fotografia cuidada, com belas imagens. O argumento é muito interessante: trata das consequências de uma tragédia, sem perder o humor, nem a ironia. Não deixa de registrar com veemência a opressão dos anos 80, nos estertores da ditadura militar, e também adverte para os riscos de outras ditaduras. É aí que a ficção científica ao estilo ciberpunk (mas a música que rola é funk...) dá o tom.

Por vezes, o ritmo ralenta. Nesses momentos, perde um pouco da força. A finalização também deixa a desejar. Mas que não se cometam julgamentos precipitados: vale a pena, sim, ver o filme! Vale pelo argumento, pelos protagonistas, pelas locações. Pelo fato de ser um filme que consegue libertar-se das imagens oficiais da cidade, insurgindo-se contra elas, apresentando uma paisagem familiar a quem conhece a capital além do lugar comum, além do enquadramento veiculado pelos noticiários, além dos limites do Plano Piloto, onde só podem entrar os eleitos, portadores do passaporte especial...



BRANCO SAI, PRETO FICA
DIREÇÃO Adirley Queirós
ELENCO Marquim do Tropa, Dilmar Durães e Gleide Firmino
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 12 anos






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