Fui assistir ao filme Branco
sai, preto fica, realizado em 2014, com assinatura de Adirley Queirós, uma
produção brasiliense, que contou com financiamento do FAC/DF e ganhou o prêmio
de melhor filme no 47º. Festival de Cinema de Brasília. Estava na expectativa
de ver o trabalho. Quando solicitei o ingresso, a moça me olhou séria e fez a
advertência: É um filme sobre música funk
da Ceilândia. É isso mesmo? Confesso que fui pega de surpresa. Apenas
respondi que Sim, é isso mesmo.
Depois que saí dali, fiquei pensando na situação discriminatória que isso
representou. O que a atendente teria pensado que justificou aquela advertência?
Eu, uma mulher branca, de meia idade, que interesse teria naquele tipo de
filme? Teria, ela, feito a mesma advertência aos demais clientes (pois a sala
estava com mais da metade das cadeiras ocupadas)?
Branco sai, preto fica
é um filme com a cara de Brasília, ou, do Distrito Federal, sua periferia. É um
filme que brada aos quatro ventos que a capital federal não se restringe à
Esplanada dos Ministérios, e suas gentes transitam por outros trechos do mapa.
De alguma forma, o filme brada contra a mentalidade manifestada pela moça que
me vendeu o ingresso, à entrada do cinema...
As tomadas são fortes, intensas. Fotografia cuidada, com
belas imagens. O argumento é muito interessante: trata das consequências de uma
tragédia, sem perder o humor, nem a ironia. Não deixa de registrar com
veemência a opressão dos anos 80, nos estertores da ditadura militar, e também
adverte para os riscos de outras ditaduras. É aí que a ficção científica ao
estilo ciberpunk (mas a música que
rola é funk...) dá o tom.
Por vezes, o ritmo ralenta. Nesses momentos, perde um
pouco da força. A finalização também deixa a desejar. Mas que não se cometam julgamentos
precipitados: vale a pena, sim, ver o filme! Vale pelo argumento, pelos protagonistas, pelas locações. Pelo fato de ser um filme
que consegue libertar-se das imagens oficiais da cidade, insurgindo-se contra
elas, apresentando uma paisagem familiar a quem conhece a capital além do lugar
comum, além do enquadramento veiculado pelos noticiários, além dos limites do
Plano Piloto, onde só podem entrar os eleitos, portadores do passaporte
especial...
BRANCO SAI, PRETO FICA
DIREÇÃO Adirley Queirós
ELENCO Marquim do Tropa, Dilmar Durães e Gleide Firmino
PRODUÇÃO Brasil, 2014, 12 anos
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