sábado, 20 de dezembro de 2014

Cuba e EUA... notas para começo de pensamento


Inicia-se um novo frenesi. Esquerda e direita manifestam-se com paixão. Uns a favor, outros contra. Eu tento encontrar algumas pontas, para tecer algum retalho de reflexão. Certa de que as coisas mais importantes se nos escapam, e por isso mesmo não conseguiremos compreender de fato o que se passa. Muito menos se movidos por paixão que polarize posições.

Nisso tudo, há uma questão que me chama a atenção, de modo particular: o hipercapitalismo, ou, como referiu Benjamin, o capitalismo como religião, e a condição sem saída da sociedade de consumo que ocupa todos os espaços da nossa existência. Compramos itens, diariamente, não por necessidade pragmática, mas cumprindo rituais. Consumimos conseguir processar, para assegurarmos nosso lugar nas catedrais, nos eventos sociais, nas celebrações. Aos poucos, nos saturamos com informações. Nossas casas entulham de coisas. Os aterros destinados para o depósito de lixo crescem assustadoramente, ante o descarte de quantas coisas, para que se abra espaço aos novos itens... porque os rituais precisam continuar!

Enquanto isso, em Cuba, graças ao embargo econômico imposto pelos EUA, não há itens disponíveis para serem comprados. As prateleiras dos supermercados ficam vazias. Os visitantes estrangeiros levam camisetas, sabonetes, com que presenteiam os ilhéus, como lhes entregassem objetos preciosos trazidos de outra galáxia. De alguma forma são.

Assim, em Cuba, as coisas precisam ser recicladas e usadas até além do limite de sua durabilidade e resistência material. Reinventam-se as tecnologias desde o mais precário, para efetivamente atender as necessidades. Talvez pudéssemos pensar que o povo cubano, não por escolha, mas por contingência, não se submete à condição de funcionário dos aparelhos, nos termos propostos por Flusser.

A situação limite vivida pelo povo cubano explicita uma face a ser considerada, como contraponto ao aprofundamento da sociedade de consumidores na qual estamos tão imersos que sequer conseguimos imaginar outros modos de organização da vida.

Não defendo bandeiras. Da mesma forma, sem titubear, não defendo qualquer ditadura. Nenhuma. Nenhum argumento justifica qualquer modalidade de opressão. Mas também reconheço que é preciso colocar em questão os formatos de democracia que julgamos exercer. É bom não esquecermos: dentre outras modalidades, vivemos sob a ditadura do mercado, e nos comportamos como se tivéssemos liberdades de escolha. Até cremos, mesmo, nisso... afinal, a crença também é elemento fundante do capitalismo como religião...







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