Há certos estímulos à percepção que deflagram memórias
especiais, convocadas de recônditos registros encravados no corpo, tantas vezes
olvidadas.
De onde vem, por exemplo, essa repentina alegria ao ver o lilás
cintilante das petréias floridas no fim da tarde, oscilando com a brisa?
Ou esta
sensação de felicidade plena invadindo o corpo pelas narinas, quando o odor das
sementes torradas da imburana de cheiro se espalha pela casa?
Trata-se da mesma
felicidade de que é portador o momento quando, no princípio da noite, as damas
da noite eclodem, de botão em flor, aspergindo perfume invisível e inebriante à
sua volta.
Essa felicidade, que toma de assalto o frescor noturno, é sorvida
pelos viventes das sombras.
Na manhã seguinte, a visão da flor esmorecida,
pendendo da haste, subtraído seu perfume, é tradução inequívoca de saudade...
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