para David, meu pai,
que me levava para ver o barbacuá
Entre montar o acampamento, o barbacuá, cortar as folhas, secar e, depois de tudo pronto, colocar nos caixotes de madeira, era faina que durava p'rá lá de mês.
Por vezes meu pai me levava para ver o barbacuá.
Além da enorme estrutura fumegante, parecendo um estranho bicho no meio do mato, o que me fascinava era o rancho onde os homens ficavam instalados. Montado com duas forquilhas alinhadas, uma viga apoiada nas duas, a cobertura estendendo-se até o chão, onde encontrava uma tora de madeira de cada lado, formava um triângulo de capim. Parecia que, em lugar de construírem a casa, fizeram só o teto, e ele ficou ali, apoiado no chão, bastando para ser habitado. Sob seu abrigo, ficavam as quinquilharias de cada um, o pelego sobre o qual dormiam, e algumas ferramentas. Do lado de fora, sobre outro tronco, os poucos utensílios de cozinha, um fogão improvisado com pedras e terra, para o preparo do alimento, pouco, de todo dia, e para o chimarrão.
Ao fim das contas, é preciso muito pouco para garantir a vida... Vivemos, mesmo, é às voltas com o que há a mais, os excessos. Mas isso é já outra história...
Eu voltava para casa, sonhando em viver num lugar como aquele. Sem dúvida, a felicidade habita essas moradas. Nem sempre as outras, altivas e sofisticadas. Ainda hoje, lembro dos ranchos montados pelos ervateiros, e tenho certeza de que a brisa a soprar o capim de sua cobertura sussurrava o segredo de ser feliz.
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